J.
F. Nandé
Profecias de Nostradamus Reveladas Para o Século XXI
2ª edição - 2012
ÍNDICE
Prefácio da segunda edição.........................................21
Prefácio da primeira edição.........................................27
INTRODUÇÃO...........................................................31
1. Certo dia de março
2. O mundo não acaba em 2012
3. Nostradamus, o mito
4. A epopeia do futuro
5. O destino dos autores e escritos “heréticos”
A ECONOMIA............................................................61
6. Por que fazemos guerra?
7. A falência do sistema financeiro mundial
8. A primeira grande guerra do século XX
9. A crise de 29 e a Segunda Guerra
10. A aparente tranquilidade da Guerra Fria
11. A crise do petróleo
12. A crise do petróleo de 1979. Queda do xá
13. As crises econômicas dos anos 1980 e 90
14. A crise depois do 11 de setembro de 2001
15. A crise que nos alcança
16. Decadência: fim da sociedade de consumo
A TERCEIRA GUERRA...............................................112
17. A “arte” da guerra
18. Vida feliz: TV, transporte e computadores
19. As causas da Terceira Guerra
20. Meio ambiente: o aquecimento global
21. Um pacto para salvar a Economia
22. A crise energética
23. A morte do tirano num porto muçulmano
24. As tentativas para se manter paz
25. A morte de Osama Bin Laden
26. A vingança dos seguidores de Bin Laden
27. O Ataque terrorista no parque
28. Ataques terroristas na Espanha e Itália
29. Itália sofre com a guerra químico-biológica
30. O pré-sal das águas territoriais brasileiras
31. A Itália invadida pelos árabes
32. Berlusconi e o escândalo sexual
33. A guerra ganha força no Mediterrâneo
34. Uma pausa para os terremotos do Japão
35. Conflitos no Oriente antecedem Guerra
36. Israel envolvido no conflito
37. Rumores da grande guerra
38. Explosão no acelerador de partículas
39. O grande horror na Suíça
40. A Guerra é resultado da crise econômica
41. Oriente é atacado por causa do petróleo
42. Oriente reage e contra-ataca na Europa
43. A guerra alcança a Inglaterra
44. Destruição de Paris
45. A derrota dos países do G-7
46. Portugal e Espanha na Guerra
47. O Oriente e o Ocidente enfraquecidos
48. A humanidade no estado primitivo
O ANTICRISTO....................................................218
49. Por que o mundo não “acabou” em 1999?
50. O anticristo, a aberração, está entre nós?
51. O jardineiro de Nova Iorque - o anticristo?
52. Terremoto anuncia vinda do anticristo?
53. Anticristo, o grande inimigo do homem
54. O irmão gêmeo do anticristo nasce morto
55. Anticristo no poder – 27 anos de guerra
56. O grande “cometa”, fuga e morte do papa
57. Tsunami gigante na Grécia
58. Passagem do “cometa” e terremoto
59. O “cometa” e a morte do anticristo
60. A invasão dos “carecas iluminados”
61. Resumo: as guerras, o anticristo e os “carecas”
62. Igreja Católica voltará às origens
63. Outras personagens curiosas e intrigantes
HISTÓRIA................................................................274
64. A morte do rei – a fama de Nostradamus
65. Perseguição aos astrônomos
66. A Revolução Francesa contada em detalhes
67. As mortes de Luís XVI e Maria Antonieta
68. O destino de Napoleão
69. Napoleão: casamentos, prisão e morte
70. Garibaldi e a unificação da Itália
71. O fim do poder temporal do Papa
72. A Belle Époque e o cenário da guerra
73. A gripe espanhola no final da guerra
74. A Revolução Comunista na Rússia
75. A Segunda Guerra – Hitler
76. A perseguição aos judeus – o Holocausto
77. Nostradamus compara Hitler a Nero
78. Hitler, o grande velhaco
79. As seitas secretas nazistas
80. A Linha Maginot e Paris Ocupada
81. Nascimento e morte de Mussolini
82. A queda do Terceiro Reich
83. O desembarque na Normandia
84. Nagasaki e Hiroshima
85. O Tribunal de Nuremberg e a Guerra Fria
86. O suborno e a Palestina
87. O retorno dos judeus a Israel
88. Eleições de João Paulo I e João Paulo II
89. Assassinato de John Kennedy
O FENÔMENO PROFÉTICO......................................344
90. A Percepção Extrasensorial (ESP)
91. As críticas à linguagem profética
92. Os profetas do “fim do mundo”
93. A caixa de Euclides
RETROSPECTIVA 2011.............................................364
BIBLIOGRAFIA.........................................................378
Prefácio da 2ª edição
Defeitos &
Virtudes
Ao ser
apresentado em sua primeira edição, este livro veio acompanhado de alguns
defeitos e creio que, também, virtudes. Por isso, tenho que retomá-lo na ilusão
de apagar seus trechos nebulosos e ressaltar seus pontos positivos. Aldous
Huxley (1894-1963), autor de “Admirável Mundo Novo”, escreveu no prefácio de
uma das últimas edições de seu livro que tal iniciativa é vã e fútil, porquanto
ao se reescrever “provavelmente se retirariam não só algumas das falhas da
história, mas também alguns de seus méritos originais”. Assim, Huxley nega-se a
modificar seus escritos, mas não deixa de apontar os seus defeitos no prefácio
da nova edição.
Seria-me fácil o
método de Huxley, nosso profeta moderno, bastaria passar a quem se debruça por
sobre estas páginas a dura tarefa de identificar as imprecisões depois de
alguns alertas iniciais. Mas, cultivo um estranho gosto pelo difícil e por
certo ao se deparar com esta edição, o leitor verificará que não levei em
consideração os conselhos do escritor inglês.
O primeiro defeito
deste livro está na pressa em que foi escrito. Em pouco mais de dois meses,
consumi nunca menos de 16 horas diárias em seu feitio. Em março e abril de
2011, os acontecimentos e tragédias pareciam se suceder num mar repleto de
naufrágios históricos e à medida que as traduções das Centúrias se me revelavam
em consonância com a realidade, mais e mais sentia o desejo de trazer a público
as novas descobertas até então sepultadas nos prognósticos de Nostradamus.
Embora tenha lançado mão de boa bibliografia,
o segundo defeito aparece na falta de uma pesquisa mais intensa de alguns
tópicos. Muitas vezes tive que confiar na memória para citar certos fatos e
fiar-me na intuição para deduzir outros.
Por último,
dentre os defeitos, temos a complexidade do trabalho proposto. Línguas
desaparecidas, mitologias, lugares históricos que já não guardam o mesmo nome,
a nebulosidade das profecias e a subjetividade da poesia apareceram-me
continuamente sobre o papel em desafios diários, verdadeiros entraves ao meu
propósito de dar clareza às profecias sem usar do artifício de longas notas de
pé de página.
Entretanto,
creio que esses defeitos apontados são pequenos perante a natureza desta obra.
A rapidez era necessária porque as profecias se revelavam continuamente e
algumas saltavam aos olhos em susto, em verdade, em precisão. O terremoto em
território japonês, os acidentes nucleares, a primavera árabe, a morte de Bin
Laden, o virtual desaparecimento de Gaddafi e o agravamento da crise financeira
mundial impulsionava-me para a publicação imediata dessas revelações.
Assim que fechei
o último parágrafo deste livro, entrei em contato com duas ou três editoras e
fiquei pasmo com o tempo que elas pediam para a análise dos originais, nada
menos do que um ano. Ou seja, com uma complicada edição, na melhor das
hipóteses este livro seria publicado somente no final deste ano. Outra coisa
que me fez desacreditar nas editoras procuradas era o “investimento” delas nas
obras que determinavam o fim do mundo em 2012. Com o desmentido dos cientistas
e investigadores sobre a profecia Maia, um monte de livros editados e que
tratavam do tema estava condenado ao encalhe. Este livro, que nega tal
profecia, seria mais “elemento de propaganda” contra essas publicações
equivocadas. Felizmente encontrei na internet uma forma rápida e eficiente para
fazer publicar o que havia descoberto. Em agosto do ano passado tive acesso à
editora Bookess e publiquei este
livro no formato e-book, disponível
também na versão impressa. Neste ano, é bem possível que a segunda edição
esteja disponível em outros sítios além do catálogo da Bookess.
Quanto às falhas
de memória e imprecisões históricas deste livro, pouco ou quase nada constatei
na revisão em que me obriguei. Acredito que os anos gastos como editor de
jornais e, sobremodo, de assuntos internacionais, deram-me a consistência para
o entrelace dos acontecimentos e deduções perante o profetizado.
De resto, creio
que os defeitos maiores foram sanados: alguns ajustes de vírgulas, novo desenho
da capa e melhorias na diagramação.
Passemos ao que
considero virtude nestes escritos que apresento. Embora trabalho complexo,
contei com a fortuna de estar preparado para a tradução de Nostradamus a partir
de seus primeiros textos publicados. Em anos anteriores havia colocado no ar um
sítio na internet dedicado ao estudo do latim clássico e também começara uma
página de latim vulgar em traduções de orações e textos bíblicos. Como a chave
para entender as Centúrias se prende ao latim, é óbvio que ganhei o tempo
necessário para a compreensão da linguagem profética disposta em versos
propositalmente truncados. Artifício utilizado por Nostradamus para escapar do
fogo da inquisição católica medieval.
Mas, a virtude,
se ela existir aqui de fato, acredito que está no arranjo aqui dado às
profecias de Nostradamus. Trabalhei por tópicos, o que facilita a compreensão
do profeta, com início meio e fim de tudo quanto foi vaticinado. Desta maneira,
como num teatro, destaca-se o cenário que é a guerra e seus desdobramentos. Na
realidade, duas grandes guerras próximas: a primeira, com duração de pouco mais
de três anos, motivada pela crise financeira e do petróleo. Cessada essa curta
guerra, outra maior vai envolver toda a humanidade. A Terceira Guerra, com
duração de 27 anos. Em ambas com a presença do anticristo.
As duas
guerras se somadas vão reduzir a humanidade a número mínimo de indivíduos, pela
fome, alterações climáticas críticas e doenças. Isso sem contar as vítimas
diretas nos bombardeios sobre as cidades e nos campos de batalha. Depois dessas
guerras, o aparecimento de uma nova raça, ou novos seres que devem dominar
nosso planeta. Tudo isso aflora, e o leitor vai observar isso, na montagem do
grande quebra-cabeça deixado por Nostradamus. Meu trabalho foi montá-lo numa
linha do tempo, embora lacunas apareçam aqui e ali, o que nos forçará a
constantes atualizações das interpretações das profecias.
Em Curitiba, 9 de fevereiro de 2012.
Prefácio
da 1ª edição
Para entender
Nostradamus
A essência de Nostradamus é a
guerra. Praticamente tudo que ele escreveu tem como pano de fundo e fio
condutor a guerra e seus desdobramentos, com ênfase nas personagens históricas
– importantes, ou com importância relativa. Nas Centúrias, esses ingredientes
são temperados pelo profeta com um pouco de economia, moral, costumes reinantes
e o meio onde as ações se desenvolvem dentro de um contexto mais geral: o nosso
planeta, de ordinário sujeito a desastres naturais, que descambam nas tragédias
da fome e penúria material, indutoras e motrizes de conflitos.
Outro fenômeno que Nostradamus
demonstra como primordial na deflagração de conflitos bélicos é a organização
econômica das nações e consequente política que elas praticam. Tentar
interpretar Nostradamus sem uma boa tradução e, principalmente, sem uma boa conjugação
de História e Economia é tatear no escuro. Por isso, a maior parte de seus
intérpretes vagueia pelo vale da inconsistência. Raramente eles conseguem essa
harmonia desejada e lançam as profecias para o terreno da curiosidade obtusa ou
até mesmo para o pântano da fraude pura e simples. Desta maneira, nos será
inútil qualquer interpretação que se elabore sem antecipar alguns aspectos
desenvolvidos pelo conhecimento científico atualizado.
O prefácio de um livro é o lugar
oportuno para escusas e justificativas. Perdoe-me, portanto, amigo leitor,
pelas digressões históricas e definições que forçosamente acompanham as quadras
analisadas, mas as considero demasiadamente necessárias para o propósito deste
livro, que é justamente tirar as profecias de Nostradamus do limbo do
primarismo interpretativo em que se encontram. Do contrário, sem argumentos, as
profecias, quaisquer que sejam elas e quaisquer que sejam seus autores,
tangenciam apenas a verdade do intérprete e causam mais malefício do que benefício.
Sagrados ou profanos, os conteúdos
das premonições são o aviso e clamor para uma mudança pessoal ou coletiva. A
lógica nelas é contraditória, porque de um lado se fazem sentenças quase que
imutáveis e por outro, aos mais atentos, são sentenças que podem e devem ser
mudadas. Elas reproduzem a eterna luta entre o destino e o livre arbítrio e
quando elaboradas pelo profeta ficam à disposição de todos e orientam mudanças.
Em última análise, as profecias guardam em si a vontade de não se realizarem,
mas para que deixem de acontecer, há de se ter ouvidos para ouvi-las.
Este livro carrega a modéstia de
somente responder a uma pergunta de criança e para tal, sem ira nem paixões,
procurarei empregar algumas ferramentas tiradas à razão e investigarei as
possibilidades dessa questão que extrapola o que conhecemos como ciência.
Espero, sinceramente, que ao final desta obra, eu tenha contribuído para os
devidos esclarecimentos e formação de juízo quanto ao fenômeno que chamamos de
premonição ou dom da profecia e como ele deve ser visto e estudado.
Entretanto, daqui em diante, o
leitor não encontrará somente o viés científico sobre o fazer profético.
Nostradamus está muito além de ser somente um profeta, ele é antes de tudo um
poeta com uma obra monumental. A poesia surge nele como um instrumento para
escrever a história às avessas, um épico sobre o futuro. E nada há neste mundo
que consiga trabalhar melhor a realidade objetiva juntada com o mundo onírico
dos vaticínios do que o lirismo poético. Por isso, usarei a ciência quando a
realidade estiver confirmada no dizer profético e a ficção especulativa quando
os dados da realidade ainda não estiverem todos disponíveis.
A proposta deste livro, para que
fique bem claro, é colimar a profecia, depois aferi-la com a realidade e, na
falta de elementos concretos, objetivos, partir para os métodos de indução e
dedução em busca de uma realidade ficcional, porém realizável dentro do que nos
está à disposição neste início de século.
Em Curitiba, 13 de maio de 2011.
INTRODUÇÃO
O mundo não
acaba, renova-se.
1. Certo dia de março
O mês de março de 2011 despertou
velhos titãs no coração incandescente do nosso planeta. No dia 11, o Japão
tremeu e as águas revoltas do oceano Pacífico fizeram com que mais de 20 mil
almas encontrassem triste fim em meio ao desespero e ao terror causado pelo
acidente nuclear na usina de Fukushima, decorrente do maior terremoto na
história recente do Japão e que provocou até mesmo um deslocamento no ângulo de
inclinação da Terra em relação ao seu eixo, algo em torno de 25 centímetros.
Igualmente neste mês de março, o Norte da África alcançava o ápice de uma crise
que exigia a renúncia de antigos tiranos e ditadores contumazes. Duros algozes
de um povo que vive sobre terras áridas e adormece por sobre o negro lençol de
petróleo, objeto de cobiça das nações que, por comodismo ou vis interesses
econômicos, desdenham quaisquer outros tipos de matrizes energéticas para
garantir o desenvolvimento em seus territórios.
Tragédia, meu Deus, que tragédia! –
Foi o que, pasmo, disse para os meus filhos boquiabertos diante do apocalíptico
noticiário da televisão: a fúria dos elementos sobre o Japão e a realização do
inevitável destino da região que sempre conservou junto com a areia que carrega
o quente vento do deserto os germes da revolução e revolta encubados na
opressão milenar do povo que a habita. Levantei-me do sofá, tomei um copo
d’água e quando me sentei novamente, a tragédia já estava em outro capítulo. O
clima planetário, alterado pelo aquecimento global, penitenciava outras almas
temerosas em vários locais do globo, com nevascas, secas e chuvas homicidas.
Na noite dos horrores do dia
seguinte, meu filho Matheus, impressionado pelas notícias em seus 14 anos de
vida, pediu-me para comentar um livro que ele começara a ler contendo parte das
profecias de Nostradamus – creio que tal livro era herança de antiga e mística
namorada e que ele ficara anos ganhando pó na prateleira do armário da
biblioteca. Sou educador e sei que a curiosidade é velha companheira das crianças
e da juventude. Há alguns anos, na manhã de 11 de setembro de 2001, foi a
Maressa, minha filha, em seus seis aninhos de idade, que me veio avisar que a
TV estava passando um filme diferente – o desenho animado fora abruptamente
interrompido. Fui ver do que se tratava; por certo, haviam sintonizado a TV em
canal errado.
Enganei-me. Qual não foi o meu
desconsolo ao chegar à sala de TV e ver a exibição daquelas imagens hediondas
do ataque terrorista às torres gêmeas de Nova Iorque. Sentei-me e praticamente
ignorei a explicação que me era pedida pelos meus filhos. Até mesmo eles, na
inocência da idade, sabiam que aquilo não era um filme e sim a mais dura
realidade. Que dia fatal e repugnante! O medo instalara-se confortavelmente em
nossos espíritos e viajar, ou até mesmo de andar ou passear pelas ruas
significavam risco de vida, principalmente para os cidadãos dos países
ocidentais não muito queridos pelos fundamentalistas do outro lado do mundo.
Hoje, observo em meus filhos e na
grande geração do medo, a preocupação com este mundo nada glorioso em seu
sinistro futuro. Um mundo em que a esperança se dilui na imoral desvalorização
do próximo, na violência gratuita, em detrimento ao que realmente tem valor: a
vida. Um mundo repleto de viajantes que jogam tudo que é tipo de lixo no frágil
orbe azul a girar na escuridão dos espaços e nos vácuos da ignorância, egoísmo
e estupidez. Viajantes que se julgam eternos ao não se dobrarem ao óbvio: ou
mudamos nosso modo de vida predatório e suicida, ou todos estaremos condenados
a desaparecer.
Mas, voltemos ao que me mostrava
Matheus no velho livro de Nostradamus com páginas amareladas, depositário da
poeira do esquecimento e do desdém deste leitor exigente. Na primeira quadra
apontada por Matheus estava escrito: “No Oriente será visto um grande fogo;
barulho e chamas chegarão até os Estados Unidos. Haverá mortos num círculo e
serão ouvidos gritos. Com a guerra a fome e o fogo, os homens morrerão.” E em
outras duas: “Um chefe de Estado líbio poderoso no Ocidente virá a inflamar
muitos árabes contra os franceses... O Egito aumentado de mulçumanos tremerá,
Será exigida a rendição do comandante-em-chefe...” – quadras III.27; II.86;
II.91.
Li e reli os textos que o meu filho
me apontava. Depois, olhei para ele e disse que poderia dar uma resposta para
aquilo, porém mais tarde, noutro dia, talvez. Abusei, portanto, de sua
inocência intelectual, pois sou um homem de meu tempo, pretensamente educado
pela ciência que abomina profecias e outros tipos de adivinhações. Já disse,
sou pai e educador, perguntas precisam de respostas e qualquer uma que eu
desse, imediatamente ela se tornaria a verdade que meu filho iria carregar para
sempre. Pensei muito e ponderei minha atitude até concluir que eu não tinha o
direito, em reposta, de mostrar apenas o lado que me satisfazia
intelectualmente. Educar é mostrar todos os caminhos, e se possível mostrar o
menos penoso. Que direito eu tinha de interromper aquele belo exercício que,
sem saber, meu filho se propunha: é possível alguém prever os acontecimentos?
Por dever da profissão de
jornalista, sou praticamente obrigado a acompanhar diariamente jornais e
telejornais. É um antigo hábito em casa, TV ligada nas redes internacionais de
notícias, jornais e livros espalhados por todos os lados. Minhas crianças se
acostumaram a isso e me acompanham. Com o livro em mãos, para Matheus estava
tudo muito claro, as profecias de Nostradamus se encaixavam perfeitamente no
que estava acontecendo, terremotos, acidentes nucleares e guerras anunciadas.
No Oriente, exatamente no Japão, um terremoto seguido de tsunami gerou ondas
gigantes, arrasou cidades e colocou em riscos usinas atômicas, provocando
mortes e depois o isolamento de parte do território japonês em um círculo. Além
disso, um líder líbio, o coronel Muammar al-Gaddafi, realmente estava
apavorando o mundo numa reação cruel às manifestações que pediam liberdade no
país. Matheus apenas desejava uma segunda opinião.
Certamente, pela minha educação
científica retilínea e obtusa, não poderia dar meu aval a profecias ou a
crendices populares. Porém, pela mesma educação, algo me dizia que o assunto
deveria ser investigado. O orgulho e o preconceito normalmente nos tornam
cegos. Orgulho de acreditar nas intangíveis partículas atômicas, na
antimatéria, na matéria escura, em tantas teorias científicas e desprezar algo
que há quase 500 anos habita o imaginário popular. Preconceito tacanho ao me
eximir de algo não compreendido e por assim ser, atolado no lamaçal da
ignorância vulgar, na qual, miseravelmente, me incluía.
Naquele momento senti que quaisquer
respostas, para mim ou para meus filhos, seriam superficiais, ou desprovidas de
verdade. Por isso, naquela mesma noite mergulhei nas águas perigosas da bacia
do oráculo francês. Li atentamente algumas de suas quadras e vi que várias
delas poderiam corresponder à realidade recente do mundo e que outras
descreviam fatos já ocorridos e com certa precisão. Observei também defeitos,
principalmente em traduções forçadas ou mal feitas e interpretações
equivocadas, geralmente provocadas por crendices, apego do interprete a algum
credo, distorções arraigadas ao místico inerentes ao mundo onírico em que as
profecias são formatadas.
Mais tarde, quando me foi possível
uma pausa, elaborei algumas conclusões ligeiras: primeira, as profecias de
Nostradamus se constituíam num fato, fenômeno que ninguém pode contestar a
existência em diversos livros; segunda, embora as profecias estivessem sempre
presentes no imaginário humano, somente alguns obstinados pesquisadores
tentaram tirá-las do confortável colchão religioso e travesseiro místico. Para
os homens de ciência, uma coisa existe ou não existe. Caso não exista, deve ser
refutada; caso exista, devem ser estudadas para ser libertada do véu da
obscuridade e ignorância.
A resposta seria difícil, mas é
assim que devemos agir caso queiramos realmente educar, pois cômodo seria
inventar qualquer história, fazer-me de esquecido e ensinar para meu filho a
arte da dissimulação perante o inexplicável. Fácil seria oferecer a ele o
silêncio, ordinária resposta dos acomodados.
E aqui está. Essa é a resposta de um
pai para seu filho. Um pouco longa, eu sei, porém construída com o carinho de
quem ensina e ao mesmo tempo aprende. Para tê-la assim, em forma de livro, e
podê-la compartilhar consigo, leitor, nada me custou além do tempo que
normalmente dedico a traduções desinteressadas de antigos autores romanos. Só
lamento ter deixado de lado o velho poeta Ovídio cuja leitura da obra me
fascinava. Exilei-me dele por um tempo, mas ao seu território lírico logo
voltarei ao apertar a tecla de ponto no último parágrafo.
2. O mundo não acaba em 2012
Uma pergunta recorrente de meus
amigos e que faço questão de responder agora, trata da possibilidade do “fim do
mundo” em 21 de dezembro de 2012, conforme a suposta profecia dos antigos
astrônomos Maias. Até mesmo a balconista da livraria em que eu procurava obras
para montar a bibliografia deste livro me fez essa terrível pergunta:
“Nostradamus previu o fim do mundo em 2012?”.
Categoricamente respondi e respondo
que não, porque Nostradamus nunca falou em algo especial em 2012 ou “fim do
mundo” e sim na “renovação dos séculos”. Renovação que viria precedida por
vários sinais e que pode acontecer a qualquer tempo, em 2012 inclusive, ou até
o final do terceiro milênio, se for considerado o calendário vigente, conforme
ele revela em carta a seu filho César: “Escrevi os livros de profecias e eles
contêm os vaticínios perpétuos até o ano de 3197”. [Fontbrune, p.30] Em outras
palavras, a expressão “fim do mundo” em relação às profecias de Nostradamus é
extremamente inadequada e só pode ser usada por desinformados ou
mal-intencionados. Como veremos adiante, na análise do que seria a terceira e
última grande guerra, ao seu final, depois de 27 anos de combates, Nostradamus
prevê o início de um novo tempo, usando a mesma expressão da previsão da
Revolução Francesa (renovação dos séculos). Ora, o que aconteceu depois da
Revolução Francesa? – exatamente a renovação dos séculos, por meio de novos
arranjos políticos entre as nações, avanços tecnológicos e consequente mudança
em nosso modo de viver. Então, nessa próxima “renovação dos séculos” está o
início de uma nova era ainda por vir. O sofrimento da humanidade durante a
guerra fará surgir um novo tipo de sociedade, provavelmente melhor do que a
existente, onde os erros serão corrigidos, porém sem garantias de que nosso
velho espírito contencioso e bélico seja domesticado em uma nova cultura
baseado em valores mais sublimes.
Cheguei a elaborar uma longa tese
para demonstrar erros aos que enxergavam em 2012 o “fim do mundo”, mas,
felizmente, enquanto escrevia este livro, a própria ciência desfez o equívoco
dessa crença infundada e poupou o leitor de mergulhar na leitura de um
extenuante trabalho.
No dia 30 de março de 2011, a
Agência de Notícias France Press
(AFP) distribuiu para a imprensa mundial a seguinte notícia: “A pedra do
calendário maia que foi interpretada erroneamente como um anúncio do fim do
mundo marcado para dezembro de 2012 foi apresentada na terça-feira em Tabasco,
sudeste do México. A peça é formada de pedra calcária e esculpida com martelo e
cinzel, e está incompleta. – No pouco que podemos apreciá-la, em nenhum de seus
lados diz que em 2012 o mundo vai acabar –, enfatizou José Luis Romero,
subdiretor do Instituto Nacional de Antropologia e História. – No pouco que se
pode ler, os maias se referem à chegada de um senhor dos céus, coincidindo com
o encerramento de um ciclo numérico –, afirmou Romero. – A data gravada em
pedra se refere ao Bactum 13 –, que significa o início de uma nova era,
insistiu Romero”.
A histeria do apocalipse em 2012 foi
potencializada com vários livros que exploram o tema e o filme do gênero
catástrofe “2012”, produzido em 2009 por Roland Emmerich e estrelado por John
Cusack e Chiwetel Ejiofor. Porém, temos que esclarecer: se não há um final do
mundo em 2012 ou apocalipse, nada obsta que alguma das profecias de Nostradamus
aconteça nesse ano e nos seguintes. Ao verificar as Centúrias, poderia aqui colocar vários
acontecimentos importantes e talvez, extraordinários,
a se concretizarem até 2015 e que nos abririam as cortinas para uma nova era:
I.16
Faux à l'estang ioinct
vers le Sagittaire,
En son haut AVGE de
l'exaltation,
Peste, famine, mort de
main militaire,
Le siecle approche de
renouation.
[Falsa
aliada à lagoa de Sagitário, em sua exaltação maior ascendente, peste, fome,
morte nas mãos de militares; o século se aproxima a sua renovação].
Nessa quadra das Centúrias,
verifica-se uma configuração celeste que, segundo os astrólogos, deve se
desenhar no céu em 2015 – Saturno no afélio e em exaltação, na constelação de
Escorpião em conjunção com Sagitário. Ora, temos nesses versos o anúncio de uma
possível guerra, já que a fome, doenças e a morte vão ser provocadas por mãos
de militares. Nostradamus nos fala de duas guerras adiante, uma com duração de
pouco mais de três anos e outra, a Terceira Guerra, e talvez não a última, num
longo período de 27 anos. Seria, portanto, a guerra e seus horrores nos
determinando uma nova era, infelizmente marcada por fome, morte e doenças, mas
não o suposto apocalipse contido na desmentida profecia maia para 2012.
Notas da edição de 2012 – Pelo que será exposto nos próximos capítulos, o
ano de 2012 acrescentará alguns indicadores no caminho que nos leva ao abismo.
Dentre as catástrofes naturais, merecem destaques alguns eventos:
Erupções solares são
explosões na superfície do Sol causadas por mudanças repentinas no seu campo
magnético. Para 2012, estão previstas várias dessas erupções que podem causar
altos níveis de radiação no espaço sideral e gerar hiper-tempestades
geomagnéticias. Esta radiação abrange amplo espectro eletromagnético, desde as
ondas de rádio até os raios X e raios gama. Quando essas ondas atingem a Terra,
a magnetosfera do planeta desvia a maior parte da radiação, mas uma parte pode
chegar à atmosfera, causando as tempestades geomagnéticas que, dependendo da
magnitude podem causar problemas de funcionamento de satélites e até mesmo apagões.
Há também a probalidade do campo magnético terrestre não conseguir barrar toda
a radiação, o que seria catastrófico, pois boa parte da vida moderna depende do
fornecimento de energia (casas, empresas, hospitais, transportes) e também dos
satélites de comunicação. Telefones e internet não funcionariam e as empresas
(bancos e bolsas de valores, principalmente) não teriam como manter suas
atividades. Os físicos afirmam que entre 2012 e 2013 essas atividades do nosso
Sol devem ser bem superiores as que foram registradas nos últimos cinco anos.
Algumas profecias, principalmente de reliogiosos, apontam para uma inversão do
eixo magnético terrestre nesse período, o que, somado às tempestades solares,
poderiam causar longos dias de escuridão no planeta. Os cientistas dizem que a
Terra já sofreu, em épocas remotas, várias inversões polares, porém naõ há como
determinar a data da próxima ocorrência nem seus possíveis efeitos.
Terremotos, maremotos e tsunamis – Dois terremotos registrados no início de 2012, na Indonésia e Peru
aparecem como um alerta para futuras erupções no Anel de Fogo do Pacífico,
envolvendo América do Norte e Japão. Outras localidades, conforme as profecias
adiante traduzidas, como as regiões que margeiam o Mediterrâneo também mercem
atenção.
Alterações climáticas – As alterações climáticas produziram no início de 2012 temperaturas
baixíssimas no hemisfério Norte e altas no hemisfério Sul. Em decorrência a
produção de gêneros alimentícios foi afetada. As regiões da América do Sul,
grandes produtoras de alimentos – Chile, Paraguai e Brasil – sofreram com a
estiagem. Com isso, a falta de comida tende a se agravar, destacadamente nos
países pobres da África e Ásia, gerando instabilidade política nessas regiões,
que já sofrem com a falta de emprego e renda.
Crise Financeira –
Castigados por fortes nevascas e registrando temperaturas bem abaixo de zero, os
países europeus terão que importar commodities num volume superior ao esperado.
A alta dos preços, aumento do custo de vida e desemprego gerado pela crise do
euro, podem ser a gota d’água para uma crise ainda mais grave na região e que
deve se alastrar para outros mercados.
Primavera Árabe e a crise energética – O processo conhecido como Primavera Árabe, com a derrubada e morte
de ditadores no Norte da África, está bem longe de terminar, como demonstram as
últimas manifestações populares no Egito e o quadro de guerra civil na Síria.
Quanto à crise energética, a impossibilidade da paz imediata entre
Israel e Palestina somada às medidas de bloqueio econômico do Ocidente ao
governo do Irã, podem determinar grandes conflitos, inclusive nuclear,
envolvendo os países produtores de petróleo. Com isso, os ataques terroristas
no mundo devem aumentar, sendo os países da Europa e os EUA alvos
preferenciais.
De acordo com as profecias de Nostradamus, todos esses fatores aqui
mencionados estariam somados e multiplicados durante ao período que ele
classifica de “renovação dos séculos”.
3. Nostradamus, o mito
A primeira pergunta que se deve
fazer sobre alguém que se tornou mito é se ele existiu realmente e em caso
afirmativo, o segundo passo é eliminar os excessos comuns às biografias
mitológicas.
– Sim! – Michel de Nostradamus, nome
latinizado de Michel de Nostredame,
não é lenda. Ele nasceu ao meio-dia de 14 de dezembro de 1503, em Saint Rémy de
Provence, filho do casal judeu convertido ao catolicismo Jacques de Nostredame
e Reyniére de Saint Rémy. Sua grande cultura e inteligência foram estimuladas
desde cedo pelo seu avô Jean, que deu ao menino as primeiras noções de grego,
latim, hebraico, matemática, cabala e astrologia.
Com 19 anos, ele ingressou como
estudante de medicina em Montpelier. Após receber o título, começou a clinicar
tratando doentes atingidos pela peste, doença endêmica na Europa do século XVI.
Em 1525 ele já era reconhecido como um bom médico nas cidades em que circulava:
Narbonne, Carcassonne, Toulouse, Bordeaux e Avignon. Depois, começou uma série
de viagens por quatro anos – durante sua vida errante, acredita-se que ele
também tenha passado pela Itália e Sicília.
Pouco se sabe do médico no período
que vai de 1525 até 1546. Uma informação comum nas suas inúmeras biografias
mostra que Nostradamus se estabeleceu por certo tempo em Agen, onde se casou.
Nessa mesma localidade, ele teria perdido a esposa e dois filhos vitimados pela
peste. Depois, Nostradamus muda-se em definitivo para Salon de Craux, onde se
casa e tem filhos.
A partir de 1550, Nostradamus passa
a editar almanaques anuais contendo material astrológico. Em 1555 faz publicar
a primeira edição das Centúrias. Quatro anos mais tarde, uma de suas profecias
é confirmada com a quadra que previa morte trágica do rei Henrique II da
França. Pela fama alcançada, ele começa a atender membros da nobreza europeia,
como médico e como astrólogo.
Os antigos biógrafos de Nostradamus
afirmam que uma das fontes de sua poesia profética é a Astrologia, porém
misturada a conhecimentos de Astronomia. Mas nas duas primeiras quadras da
primeira centúria, o próprio Nostradamus nos explica seu método e ritual antes
de registrar o que tinha lhe chegado como presságios:
I.1
ESTANT assis de nuict secret estude,
Seul reposé sur la selle d'aerain:
Flambe exigue sortant de solitude,
Fait prosperer qui n'est à croire vain.
[Estando
sozinho, à noite, em secretos estudos, tomo assento no tripé de cobre: minúscula
chama surge da solidão e faz progredir quem não crê em vão].
I.2
La vierge en main mise au milieu de Branches
De l'onde il moulle et le l'imbe e le pied:
Vn peur et voix
fremissent par les manches:
Splendeur diuine. Le diuin pres s'assied.
[O bastão
em meio a ramos nas mãos, a água me molha tanto os pés quanto a barra da
túnica. Minha voz treme e o temor passa pelo meu punho. Fulgor divino. O divino
desce sobre mim].
Pela extensão da obra poética de
Nostradamus, ele deve ter repetido esse ritual por anos a fio. As noites no
século XVI eram tediosas e mal iluminadas por velas em minúsculas chamas. De
acordo com essas duas quadras, completamente só, o profeta senta-se numa
cadeira feita de bronze e mergulha seus pés numa bacia com água e ervas medicinais
– sofria de gota – e, dessa maneira, entra num transe semelhante aos médiuns
que hoje psicografam. Sentia-se assim, em estado quase que febril e inspirado
por uma entidade divina.
Muitos entendem o bastão e as ervas
em sua mão como uma espécie de filtro para suas profecias, mas a razão para
isso nos parece prática, ele usava o bastão para agitar as ervas medicinais da
efusão preparada na bacia com água quente, com a intenção de descansar seus pés
e tratar a gota, sem que para isso tivesse que se levantar da cadeira. Assim,
num dia qualquer, por dever de ofício, ou talvez como incontestável prova de
que possuía um dom singular, Nostradamus prevê e descreve a sua própria morte:
Prèssage CXLI. Nouembre.
Du retour d'Ambassade. dô de Roy. mis au lieu
Plus n'en fera: sera allé à DIEV:
Parans plus proches, amis, freres du sang,
Trouué tout mort prés du lict & du banc.
[Ao
retornar da Embaixada e guardando o presente do rei em lugar seguro, ele não
poderá mais agir e morrerá. Os parentes próximos, amigos e consanguíneos o
encontrarão morto ao lado do leito e da cadeira].
No final do ano de 1564, Nostradamus
visitou Carlos IX, que lhe ofereceu uma quantia de trezentos escudos de ouro.
Logo após, sua família e seus amigos o encontraram morto, ao lado da cama e ao
pé da cadeira de bronze.
4. A epopeia do futuro
Em todas as análises que se me
ofereceram aos olhos sobre Nostradamus noto que um fato de muita importância é
simplesmente relegado ao segundo plano ou nem mesmo é considerado: Nostradamus
é antes de tudo um poeta, com toda a carga e peso que essa designação guarda. Na
totalidade, sua obra é construída em versos.
Considerando apenas as Centúrias,
vamos encontrar 12 delas, planejadas, é lógico, para conter cada uma 100
quadras, num total de 1.200 quadras, ou 4.800 versos. Todavia, algumas delas
aparecem com números diferentes: a sétima com 46 quadras; a oitava com 108; a
décima primeira com apenas duas; e a décima segunda com 11 quadras. Num total
efetivo de 967 quadras, ou 3.868 versos. Uma hipótese a ser considerada, além
da falta de tempo para terminá-las, é que inicialmente o poeta planejou 10
Centúrias e não doze como aparecem em quase todas as edições que vieram a lume.
Ora, esse número de versos em uma
única obra é comum em epopeias. A Ilíada, atribuída ao poeta grego Homero
(século VII a.C), é composta por 15.693 versos. O nosso Luís Vaz de Camões
(1524-1580) compôs “Os Lusíadas” com 8.816 versos.
A propósito, o grande poeta
português é contemporâneo de Nostradamus e, por isso, julgo convenientes
algumas observações: as primeiras partes das Centúrias foram publicadas entre
1555 e 57 e “Os Lusíadas” em 1572; Camões escreveu em oitavas – oito versos
decassílabas rimadas no esquema ABABABCC; Nostradamus optou pela quadra –
quatro versos decassílabos rimados no esquema ABAB.
É evidente que apenas faço um
paralelo comparativo entre as dimensões das obras citadas e jamais me proporia
a outra forma de análise, porque são casos totalmente diferentes. Incialmente,
ao contrário do que acontece com a leitura de Camões, para a pobre alma que se
debruça por sobre a magnífica extenuante obra de Nostradamus, nada mais se vê
do que um amontoado de enigmas distribuídos em caótica ausência de ordem numa
linha do tempo inexistente, complicados por uma linguagem aparentemente obscura
e até mesmo incompreensível. Somem-se a essas dificuldades, versos decassílabos
escritos em Francês Provençal (arcaico) misturados ao Latim e ao Grego, em
grande parte afrancesados, com a sintaxe de regência latina – em alguns versos
são suprimidos os artigos e as palavras obrigam o tradutor às regras das
declinações e modos praticadas ainda no tempo dos imperadores romanos; para
piorar, como poeta e profeta Nostradamus recorre a figuras de linguagem,
anagramas e à ordem indireta em seus versos, para garantir o seu estilo
profético, além da métrica e cadência exigidas pela poesia.
Outras perguntas que temos que fazer
a esta altura: por que Nostradamus apresenta sua obra dessa maneira confusa e
em qual categoria poética devemos enquadrá-la?
Para responder a essas questões, há
de se buscar o clima político e religioso da época em que viveu o profeta. A
Igreja Católica, com a inquisição do Santo Ofício, intensificou a caça às
bruxas depois do início de movimentos reformistas em seu próprio seio. A
Alemanha agitava-se com a reforma protestante posta adiante pelo padre e
teólogo Martinho Lutero (1483-1546). Impressas em várias línguas, as ideias de
Lutero são espalhadas rapidamente por toda a Europa. Em França, os protestantes
(huguenotes-calvinistas) se animam pelas pregações do erudito bíblico Jacques
Lefèvre D’Étaples (1455-1536). “A pluralidade de movimentos religiosos, quase
que simultaneamente com o momento em que se consolidava o poder e autoridade da
Igreja, tornou necessário recorrer a medidas e estratégias de dissuasão por
meio da excomunhão, tortura, ordálio (ou ‘prova de Deus’) queima de hereges ou
o ataque a populações inteiras. Esse procedimento era inquisitório.
Posteriormente o processo se institucionalizou, principalmente a partir da
Reforma proposta por Martim Lutero, considerada o desafio mais perigoso ao
catolicismo oficial.” [Báez, p.159].
Nostradamus, filho de judeus convertidos
ao catolicismo, praticava a alquimia e a astrologia. Mesmo gozando da proteção
nobreza, provavelmente ele teria sérios problemas com a inquisição se
publicasse seus versos em ordem correta e de forma clara. Suas previsões para o
futuro da Igreja Católica eram e são as mais sombrias possíveis. Por si só,
elas denunciam abusos em claro apoio ao ideário reformista. Portanto, para um
homem em sua posição, com uma família a preservar, seria extremamente temerário
a expressão de versos subversivos em relação à Igreja e a outros poderes
estabelecidos. Isso nos explica a supressão de vários versos nas Centúrias –
certamente os mais perigosos. Mais adiante vamos ver que há indícios claros de
que o próprio Nostradamus queimou parte de sua obra – infelizmente, perdida
para todo o sempre. A possível perseguição a qual estariam sujeitos os filhos e
outros descendentes de Nostradamus pela Inquisição, também é justificativa para
o desordenamento proposital dos versos impressos e que chegaram até nossos
olhos.
Hoje, depois da concretização de
parte das profecias, é possível desfazer-se da sua linguagem hermética e inferir
uma ordem aos versos das Centúrias. Neste estudo minucioso aqui apresentado,
ordeno as quadras por assunto e, assim, verifico o desenrolar dos eventos numa
linha do tempo lógica. Desfaz-se dessa maneira o genial disfarce engendrado
pelo profeta que deu suas quadras para a impressão misturadas aleatoriamente,
num jogo de enigmas a ser decifrado numa época posterior, mais favorável à
difusão e estudo das profecias.
Deduzo que Nostradamus pretendia
escrever uma inédita epopeia com a história futura do homem. Em sua definição
clássica, a epopeia está relacionada à descrição de fatos e sem, no entanto,
ser necessariamente fiel a eles, ao dar espaço a lendas e à mitologia da
tradição oral. Ela geralmente é elaborada em versos, desenvolve conceitos morais
numa narrativa que contém personagens, tempo, ação e espaço encaixados em
cenários de guerra ou de extremas dificuldades para os protagonistas.
Nas Centúrias encontram-se todos
esses elementos, porém contados adiante do tempo do poeta. Nelas, o gênero humano
é ameaçado por sucessivas guerras, sendo que as personagens épicas de comando
são apresentadas como vítimas de um destino ditado pela imoralidade do matar em
massa e continuamente num tempo infinito e no amplo espaço do planeta Terra. E
aqui vai mais uma observação para esse inusitado épico, a presença do
anti-herói como protagonista, não apenas um, mas vários deles. Uma ideia
revolucionária para uma época eivada pela poesia de paixões de alcova e farta
de atos heróicos dos cavaleiros andantes e navegantes.
Talvez, o fascínio guardado nas
Centúrias por todos esses séculos repouse na possibilidade de estarmos
reconstruindo inconsciente e de forma constante essa estranha epopeia. Um jogo
que só terá seu fim determinado na efetivação, ou não, da maior parte das
profecias de Nostradamus.
Neste livro, trabalho apenas com os
instrumentos da razão e permito-me, às vezes, caminhos que nos levam ao
exercício da ficção, nada mais. Assim, realizo um novo ordenamento das
Centúrias dentro dessa nova perspectiva da formatação de um grande poema
dificultado pelos fatos não acontecidos, mas que podem ser imaginados ao se
seguir a linha temporal da história e deduzidos a partir da realidade objetiva.
“Afastando a imaginação fantástica, por meio do discernimento, podemos conhecer
os acontecimentos futuros”, escreveu Nostradamus a seu filho César, num claro
apelo ao racionalismo diante das profecias.
Além das Centúrias, fazem parte da
obra poética de Nostradamus, 141 presságios e 58 sextilhas e uma quadra entre a
sexta e a sétima centúria que serve de alerta ao mau uso que se fizer das
profecias. Em prosa, duas cartas, uma dirigida a seu filho César e outra ao rei
Henrique de França, uma espécie de resumo das profecias.
5. O destino dos autores e escritos “heréticos”
Os cuidados de Nostradamus ao
“disfarçar” sua obra se explicam pelos destinos que eram dados aos autores e
seus escritos supostamente heréticos. Lutero escapou da fogueira da Inquisição,
mas seus escritos provaram do calor das chamas da intolerância. Leão X
(1475-1521) excomungou Lutero e proibiu a leitura ou citação de qualquer coisa
escrita por ele. Carlos V (1500-1558) ordenou a destruição de todos os seus
livros. A partir de 1529 estava proibida a impressão de qualquer obra escrita
que não fosse autorizado por um órgão sacerdotal. Em 1542, época em que
Nostradamus já produzia seus versos, o papa Paulo III (1468-1549) constituiu a Romanae Universalis Inquisicionis seu Sancti
Officci, abreviada para Santo Ofício, apenas. Essa instituição católica
tinha o mesmo objetivo da inquisição da Idade Média, oferecer duro combate
contra todas as supostas heresias – desvios das condutas cristãs e políticas da
Igreja. Porém, como explica o historiador Báez na sua História Universal da
Destruição de Livros, o Santo Ofício se concentrou nos teólogos e sacerdotes,
rastreando com espiões e mercenários qualquer ideia suspeita.
Em 1556, um ano depois da publicação
dos primeiros versos das Centúrias, o rei francês Carlos IX (1550-1574)
ratificou a lei que ameaçava os impressores, autores e vendedores com a prisão,
ou destruição pelo fogo, dos escritos editados. A partir de 1571, nenhum livro
poderia ser editado em França sem a permissão real.
Nesse clima de desconfiança
implacável ao qual estavam expostas pessoas como Nostradamus, a cautela
significava sobrevivência. Quando era impossível para a Inquisição atingir o
autor, a obra era simplesmente destruída. Como exemplo, Baéz destaca a figura
do alquimista, astrólogo e poeta Henrique de Villena (1384? -1434). Segundo o
historiador, a Igreja não parou de perseguir Villena nem mesmo nos últimos dias
de sua vida, até mesmo no dia em que ele morreu: “todos os seus livros foram
confiscados, revistos e, em sua maioria, queimados”.
Na carta a César, Nostradamus
recomenda-lhe cautela ao informá-lo de que deixou de escrever muitas das
profecias por causa da “injustiça do tempo presente” (Inquisição): “Resolvi não
escrever minhas predições porque os governos, as seitas e os países sofrerão
mudanças tão diversas, mudanças tão diametralmente opostas às condições
presentes, que, se eu revelar o que será o futuro (em linguagem clara, bem
entendido), os homens dos governos, das seitas, das religiões e os homens de
convicção vão considerar essas profecias tão contrárias ao que desejam seus ouvidos
fantasistas, que serão levados a condenar aquilo que será presenciado e
reconhecido nos séculos futuros”. [Fontbrune, p.26].
Na mesma carta, Nostradamus revela
ter queimado todos os cânones e livros que ficaram ocultos durante longos
séculos e que estavam em seu poder. E de fato, milhares são os livros que
sabemos que foram escritos em séculos passados, pois constam citados em outras
obras, e que jamais chegarão às nossas mãos, porque, seja por precaução ou de
propósito mesmo, eles foram queimados nos séculos das trevas e superstição.
Nem mesmo a obra de Nostradamus
escapou da estupidez escondida nessa escuridão, conforme nos revela a História
Universal da Destruição de Livros: “A primeira edição desse livro (Centúrias)
se fez em 1555, em Lyon na oficina de Macé Bonhomme. Intitulava-se Les Prophéties. Incluía as três
primeiras centúrias e 53 versos da quarta. Essa primeira edição, no entanto, é
uma verdadeira raridade porque tem sido sistematicamente destruída desde seu
aparecimento. No século XIX havia um exemplar na Biblioteca da Cidade de Paris,
mas a destruição do prédio acabou com a amostra. Havia outro exemplar na
biblioteca Mazarino, mas acabou sendo vendida por 12.310 francos ao Hôtel
Drouot em 17 de junho de 1931.
Hoje sabe-se da existência de dois exemplares: um
na biblioteca de Viena e outro na biblioteca Rochegude, na região do Tarn.
Dessa primeira edição se fizeram, no entanto, várias reimpressões”. [Báez, p.
169].
Nenhum comentário:
Postar um comentário