O ANTICRISTO

O inimigo estaria entre nós e

seria uma aberração genética.

Quem são os ‘carecas

iluminados’?

49. Por que o mundo não “acabou” em 1999?

            Como acontece nas grandes epopeias, Nostradamus concede muita atenção às personagens centrais da história, principalmente àquelas que desenvolvem papéis de liderança em grandes conflitos ou guerras. De Napoleão a Hitler, de Luís XV a Mussolini, todos estão guardados em suas Centúrias. É de se imaginar como essas figuras históricas devem ter se sentido ao se reconhecerem nas profecias do médico francês. Dentre as personagens, um dos grandes mistérios está guardado na seguinte quadra:

X.72

L’an mil neuf cent nonante neuf sept mois

Du ciel viendra un grand Roy d’effrayeur

Ressusciter le grand Roy d’Angoulmois

Avant après Mars regner par bonheur.

[No mês sete do ano de 1999, do céu virá um grande rei do terror ressuscitar o grande rei do Angoulmois, antes e depois de Marte reinar por boa sorte].

            Antes do ano de 1999, foram incríveis os artifícios utilizados pelos adivinhadores, astrólogos, curiosos e exegetas para ajustar a bela data de 1999 ao “fim do mundo”. Praticamente todas as tábuas de calendários foram usadas para dar força ao vaticínio do anticristo ou terrível flagelo que desceria sobre a terra para espalhar o terror.

            Mas entrou 1999, com a sua emblemática centena de noves que poderia ser invertida, colocada de cabeça para baixo, e ser transformada em 666, o número da besta, e nada aconteceu além do anúncio de descobertas nas ciências genéticas e da histeria provocada pelo bug do milênio, vaticínio científico que apontava o caos no funcionamento dos computadores, um erro de lógica que afetaria todos os sistemas informatizados. Nem o bug e nem o final do mundo e assim chegamos ao ano da graça de 2011 sem ter experimentado essas mortais previsões dos equivocados. Mas, a quadra ainda está lá, ululando dentro das Centúrias, desafiando a imaginação dos intérpretes do oráculo francês.

            Talvez, o mais intrigante nessa quadra é a existência de uma data exata, coisa praticamente inexistente nas centúrias. Nelas, encontramos datas citadas, mas poucas vezes. Uma se refere às fases da vida de Hitler e outra está na previsão exata do grande incêndio de Londres, de 2 a 5 de setembro de 1666, na quadra 51 da II Centúria.

            Fora das Centúrias, um dos poucos vaticínios de Nostradamus em que se vê uma data citada com exatidão está na “Carta a Henrique”, em que Nostradamus afirma: “e durará (a monarquia) até o ano de 1792, que será considerado como uma renovação do século”. Com efeito, a monarquia foi abolida em França no dia 21 de setembro de 1792 e em dezembro do mesmo ano começa o julgamento de Luís XVI, que será guilhotinado em 1793.

            Na quadra da Centúria em destaque, a que previa um grande evento em 1999, pode-se partir de duas hipóteses iniciais de estudo. A primeira, os prognósticos não ocorreram e, portanto, a quadra deve ser descartada e considerada como um erro de Nostradamus. A segunda, os vaticínios se concretizaram, mas seus intérpretes não foram suficientemente capazes de encontrar os fatos que os confirmassem, portanto, a quadra não poderia ser descartada e Nostradamus estaria redimido do erro.

            Pelo que nos ensina a lógica pura e simples, quanto à primeira hipótese pouco há de se fazer, foi um erro e erros são descartados. Quanto à segunda, o erro não estaria na origem, ou seja, na quadra propriamente dita e sim nos olhos de quem a lê e a interpreta. Partindo do pressuposto de que a segunda hipótese é válida, resta-nos verificar as possibilidades de seu desdobramento.

50. O anticristo, a aberração, está entre nós?

            Para levar essa empreitada adiante, a de dar resposta a tão assustadora pergunta, vamos traduzir, primeiramente, a quadra X.79, que liga a grande figura do mal ao ano de 1999, e ao pé da letra. O primeiro verso revela: L’an mil neuf cent nonante neuf sept móis – “O ano de mil novecentos e noventa e nove [e] sete meses” – portanto, mais claro impossível, em julho de 1999.

            O segundo verso da quadra: Du ciel viendra un grand Roy d’effrayeur – “do céu virá um grande rei do terror”. A chave deste verso está no verbo vir, que em latim, venire, é sinônimo de “provir, nascer, derivar”; os mesmos significados que encontramos atualmente em nossa língua. Hoje, ainda é comum o uso dessa expressão se referindo ao nascimento de alguém: “fulano veio ao mundo em tal dia mês e ano”. Então, é perfeitamente possível que Nostradamus se refira ao nascimento de alguém ou algo novo, uma inovação tecnológica, em julho de 1999.

            Para a expressão “do céu”, certamente os religiosos dirão que se trata de alguém que teria suas origens ligadas às coisas do sagrado ou até mesmo a algo que não seria deste mundo, como antecipou São Roberto Bellarmine (1542-1651): “Bellarmine acreditou que o pai do anticristo seria um incubo – isto é, um demônio que tem relações sexuais com mulheres – e que sua mãe seria uma praticante de magia negra”. [King, 169].           A previsão de Bellarmine juntada com as profecias do Antigo e Novo Testamento sobre a Besta, ou Anticristo – o mal encarnado – nos dariam, como já nos deu, material para várias teses teológicas, o que, definitivamente, não é o objetivo deste livro. Por isso, para evitar confusões teológicas, uso a palavra “anticristo” considerada como um adjetivo anteposto a um nome desconhecido, e não como o nome em si.

            Mas, vamos colocar novamente os pés no nosso tosco mundinho. Não podemos deixar de considerar também as hipóteses mais simples como, por exemplo, a de que o anticristo seria uma pessoa concebida normalmente, nascida em algum tipo de aeronave – que pode ser desde uma estação espacial ou até mesmo um avião de carreira. A última hipótese apontaria para seus progenitores: aeronautas ou cosmonautas, ou alguém que lida com coisas que voam, ou uma jovem senhora que sente as dores do parto num voo qualquer.

            Por outro lado, no campo da ficção científica e ainda no pântano do sobrenatural, os ufólogos poderiam dizer que se trata de um extraterrestre vindo do céu, ou um homem gerado a partir das relações sexuais entre um ser extraterrestre e outro ser aqui do nosso planeta mesmo. Relação de terceiro grau encontrada fartamente na literatura sobre o tema de visitantes alienígenas.

            Outra hipótese tirada à ficção científica – e que hoje não é mais ficção! – é considerar que este ser teria sua origem de forma artificial, na manipulação genética, gerado a partir de das modificações das duplas hélices do DNA – o ácido desoxirribonucléico é uma molécula formada por duas cadeias na forma de uma dupla hélice. Lembremos que no dia 10 de julho de 1999, três anos após a clonagem da ovelha Dolly, foi anunciado o primeiro rascunho do genoma humano – esta hipótese tem grande importância para o nosso trabalho por causa da data de 10 de julho (sétimo mês de 1999, conforme a profecia).

            Prosseguindo, depois de algumas revisões científicas, o nosso sequenciamento genético foi declarado definitivamente pronto em 2000. No final da década, em maio de 2010, John Craig Venter (1946-), cientista norte-americano, que havia liderado o trabalhado da decodificação, confirmou a obtenção da primeira célula com genoma sintético – a vida artificial.

            Ao se admitir a hipótese do anticristo ser resultado da manipulação genética como sendo a primeira fagulha a nos dar a luz nessa investigação sobre as predições de Nostradamus, temos que também observar que o profeta poderia estar se referindo ao nascimento de uma tecnologia que propiciaria um novo tempo, sendo que, a partir dessa tecnologia de manipulação genética, estariam criadas as condições para o nascimento do anticristo, a qualquer tempo depois de sua introdução em nosso mundo. Isto é, a tecnologia para produzir o clone ou a aberração genética artificial, o mutante anticristo. (Com efeito, essa hipótese nos guiará deste ponto em diante, porque será reforçada pelo verso seguinte e por outras passagens das Centúrias).

            Passemos ao terceiro verso: Ressusciter le grand Roy d’Angoulmois – “Ressuscitar o grande Rei do Angoulmois”. Mais uma vez temos que apelar para o latim, o verbo resuscitare tem por significado “reanimar, fazer reviver, por em vigor”. Angoulmois é uma antiga região no Sudoeste da França e que corresponde hoje em dia ao departamento de Charente cuja capital é Angoulême, que já foi conquistada pelos visigodos e ameaçada pelos hunos, raça mongólica, sob o comando de Átila (406-453), o “flagelo de Deus”. Interpretes de Nostradamus consideram Angoulmois como sendo um anagrama para a palavra mongol. Portanto, o anticristo seria alguém que ressuscitaria, ou faria reviver, a ira do “flagelo de Deus”.

            E no último verso: Avant après Mars regner par bonheur – “Antes e depois de Marte reinar por boa sorte”. Verso obscuro, que pode ser traduzido de várias formas: “bem-sucedido antes e depois da guerra”, ou “antes e depois a guerra reinará a felicidade”.

II.45

Trop du ciel pleure l'Androgin procree,

Pres du ciel sang humain respandu:

Par mort trop tard grand peuple recree,

Tard et tost vient le secours attendu.

[Os céus choram muito pelo gerado Hermafrodita, próximo os céus verterão sangue humano: um grande povo desaparecido será recriado, nem muito tarde nem muito cedo o alívio esperado vem].

            Novamente nos permitimos algumas licenças poéticas e avanços pela ficção científica para decifrá-la. Quando Nostradamus fala de sangue vertido perto do céu e de um grande povo desaparecido recriado, podemos deduzir que a partir de um cadáver ou cadáveres congelados nas geleiras de montanhas, recolhe-se material genético para replicá-los em laboratório. É neste ponto que encontramos embriões com defeitos genéticos, conforme descreve o profeta: “nascerá hermafrodita” (andrógino, no sentido exato da palavra) e os céus choram e lamentam a ordem natural sendo violada com essas experiências.

            Embora seja remota, há a possibilidade de se achar corpos congelados de nossos ancestrais em geleiras de montanhas e com alguma chance do DNA estar em boas condições. Em setembro de 1991, um casal de turistas encontrou o corpo congelado de um homem pré-histórico, conhecido por Ötzi. Os cientistas disseram que ele deve ter vivido há cinco mil e trezentos anos, na região de fronteira entre a Áustria e Itália. Com idade estimada entre 30 e 45 anos, 1.60 metro de altura, ele agora está exposto no Museu de Arqueologia do Tirol do Sul, Bolzano, Itália, com a temperatura e o ambiente controlados, em excelente estado de conservação.

51. O jardineiro de Nova Iorque - o anticristo?

            Analisemos mais algumas quadras que se referem ao anticristo para ver se há mais vestígios perdidos sobre quem seria ele nos versos de Nostradamus:

II.7

Entre plusieurs aux isles desportez,

L’un estre nay a deux dents en la gorge:

Mourront de faim les arbres esbrotez,

Pour eux neuf Roy, nouvel edict leur forge.

[Sem roupas para se proteger, entre as várias ilhas, um nascerá com dois dentes na garganta: passará fome e podará árvores, para eles, um novo governante vai editar uma nova lei forjada. – Provençal: esbroutar, podar. Francês: porter, levar, trazer, trajar].

V.84

Naistra du gouphre et cité immesurée,

Nay de parents obscurs et ténébreux:

Quand la puissance du grand Roy revérée,

Voudra destruire par Rouen et Évreux.

[Ele nascerá na imensa cidade, grande sorvedouro de dinheiro, de pais obscuros e sombrios; quando o poder do grande governante for reconhecido, ele desejará destruir por Rouen e Evreux. – Francês: goufere, abismo, precipício, sorvedouro, antro, caverna; grande sorvedouro de dinheiro].

            Nessas quadras podemos tirar mais algumas pistas e levantar algumas conjecturas de como e onde nasceria o anticristo. Portanto, com toda a liberdade poética que os céus nos permitem: ele veio ou virá ao mundo depois da manipulação do material genético de seus pais “obscuros e sombrios”, na ilha de Manhattan, em Nova Iorque, talvez – cidade populosa, centro financeiro e político do mundo – é sede da mais importante bolsa de valores do planeta, “grande sorvedouro de dinheiro”, das Nações Unidas (ONU) e dita a moda e costumes da sociedade de consumo, por meio de suas elegantes lojas de Manhattan.

            O menino de feição mongólica e filho de pais “sombrios e obscuros”, certamente portador de uma deficiência ou modificação genética, com os seus dois dentes na garganta (o que deve ser muito desconfortável!) e hermafrodita, será rejeitado e conhecerá a pobreza, passará fome e trabalhará como jardineiro por um tempo (V.84: “passará fome e podará árvores”).

            Como em ciência não se costuma fazer uma única experiência, pois há sempre o experimento de controle e paralelos, é de se supor que outros seres manipulados em laboratório devem ter deficiências genéticas parecidas com a do anticristo, porque um novo governante fará uma lei para eles serem aceitos entre os humanos que não foram manipulados geneticamente.

            Assim, chegamos ao final da última quadra profética. No início de seu poder, talvez como assessor militar ou general, ele vai querer atacar a Europa, num preâmbulo destrutivo por Rouen e Evreux, localidades da França.

52. Terremoto anuncia vinda do anticristo?

            A deficiência genética, aberração, ou mutação, do degenerado anticristo é reforçada por Nostradamus em outra quadra:

III.42

L’enfant naistra à deux dents en la gorge,

Pierre en Tuscie par pluy tomberont,

Peu d’ans après ne sera bled ni orge,

Pour saouler ceux qui de faim failliront.

[A criança nascerá com dois dentes na garganta, haverá na Itália chuva de pedras. Poucos anos depois, não haverá trigo nem cevada para satisfazer os homens, que morrerão de fome].

            Sinais que acompanhariam o nascimento do anticristo: terremoto ou erupção vulcânica na Itália, fenômenos naturais capazes de arremessarem pedras sobre as cabeças dos homens, além da chuva de granizo ou de meteoritos. A última erupção do Vesúvio foi em 1944. De acordo com projeções científicas, caso o Vesúvio torne a entrar em atividade, ele poderá matar milhões de pessoas. No ano de 79 do início da Era Cristã, em sua erupção mais famosa, o vulcão riscou do mapa as cidades italianas de Herculano e Pompéia.

            Quanto aos terremotos, o mais forte e recente a atingir a Itália ocorreu às 3h25 da madrugada de 6 de abril de 2009, com o epicentro localizado a 10 quilômetros de L'Aquila, 68 quilômetros a oeste da cidade de Pescara e 95 km ao nordeste de Roma (praticamente a área prevista por Nostradamus!). O Instituto de Geofísica dos EUA afirmou que a magnitude do tremor foi de 6,3 graus na escala Richter. Aproximadamente 300 pessoas morreram e mil ficaram feridas. Caso se aceite este terremoto como o sinal descrito por Nostradamus, o anticristo estaria completando três anos de idade no dia 6 de abril de 2012 e atingiria a idade adulta em 2027. – Aos que se dedicam à Astrologia e mapeamentos astrais, o horário do terremoto (3h25 da madrugada de segunda-feira na Itália) que corresponde às 22h32 da noite de domingo, em Brasília. Não é possível também descartar a possibilidade de seu nascimento ter se dado em 1999, em julho. Nesse caso, ele estaria completando 13 anos de idade em 2012.

            Quanto à fome prevista na quadra, afora outros vaticínios contidos nas Centúrias sobre grandes secas e desastres naturais provocados pelo efeito estufa, ou aquecimento global, temos a acrescentar os relatórios das nações Unidas dizendo que o mundo passa, agora mesmo, por uma grande crise provocada pela alta de preços dos produtos agrícolas e por causa da baixa produtividade e custo de produção. Em março de 2011, em entrevista à agência de notícias Reuters, o chefe da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), Jacques Diouf, afirmou que o aumento nos preços globais de gêneros alimentícios básicos eleva o risco de que a crise alimentar de 2007-2008, se repita em países em desenvolvimento.

            Um salto nos preços do petróleo e o rápido consumo dos estoques globais de cereais poderia ser o prenúncio da crise de abastecimento. "A alta dos preços aumentam as preocupações e estamos reduzindo rapidamente os estoques, Durante anos temos alertado que é preciso maior produtividade e investimento em agricultura”, observou Diouf.

            A FAO pediu aos países desenvolvidos que reexaminem suas estratégias de biocombustíveis – que incluem amplos subsídios – uma vez que estes têm desviado 120 milhões de toneladas de cereais de consumo humano para produção de álcool e derivados orgânicos. Países desenvolvidos dão US$ 13 bilhões anualmente em subsídios e proteção, para encorajar a produção de biocombustíveis, disse Diouf. Nos Estados Unidos, os estoques de milho para a alimentação chegaram ao mínimo, enquanto maiores parcelas da safra são utilizadas na produção de etanol.

53. Anticristo, o grande inimigo do homem

X.10

Tasche de murdre enormes adultères,

Grand ennemy de tout le genre humain:

Que sera pire qu’ayeuls, oncles ne peres,

Em fer, feu, eau, sanguin et inhumain.

[Marcado por assassinatos e comércio criminoso, o grande inimigo de todo gênero humano: isso será pior do que seus avós, tios e não pais, na espada, fogo, água e de sangue desumano. – Latim: adulterium: comércio criminoso].

            O curioso nessa quadra é que Nostradamus situa a criatura anticristo como algo fora do gênero humano ao tratá-lo como “isso”, pronome que sempre foi usado para designar coisas. Ao citar antepassados e parentes do anticristo, o profeta reforça a idéia da transmissão de más características genéticas para a criatura – mortal como a espada, destruidor como o fogo, avassalador como a água. Novamente, aos que se dedicam à Astrologia, esses elementos servem para definir aspectos doentios da personalidade da criatura – portanto, façam suas análises. A ambiguidade “tios e não pais” nos revela que a criação do anticristo foi assumida por seus tios, ou pessoas que os valham.

            Mas, a pergunta que se deve fazer e ainda não fizemos por questões de ordenamento e compreensão do assunto, é por que Nostradamus se refere a esta aberração como o anticristo? Ora, a resposta está novamente no controle que a Igreja fazia, por meio da Inquisição, ao pensamento dos intelectuais. No século XVI, escrever algo que não estivesse de acordo com a moral e pensamentos vigentes e impostos pelo Santo Ofício colocaria o escritor como um sério candidato a arder nas fogueiras da Inquisição sempre acesas na Europa e também no Novo Mundo, recém descoberto. Além de matar pessoas indesejadas para o status quo eclesiástico, a fogueira servia para purificar o mundo de ideias perigosas e subversivas. Um exemplo claro disso se registra com Giordono Bruno (1548-1600) – Nostradamus já estava com 45 anos quando ele nasceu – condenado à morte na fogueira por heresia, pela Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício. E o que defendia Bruno? – O sistema do astrônomo Nicolau Copérnico, com os planetas girando em torno do Sol e suas órbitas elípticas previsíveis por cálculos matemáticos. Naquele tempo, uma grande heresia para os amantes das trevas!

            Embora gozando da proteção da realeza, para quem trabalhava como médico e astrólogo, certamente Nostradamus sabia do perigo que era publicar versos proféticos ao se sentir o cheiro de carne humana assada na fumaça que invadia toda a Europa. Por isso do seu hermetismo na linguagem e o uso da poesia para descrever os acontecimentos a ele revelados. Registre-se que a poesia também foi o artifício usado pelo florentino Dante Alighieri (1265-1321) em seus tercetos sobre a vida do além túmulo e reunidos na sua Divina Comédia.

            O leitor poderá verificar que os versos relativos ao anticristo (palavra que Nostradamus usa em algumas quadras a serem examinadas adiante) – ele, o “flagelo”, nos é apresentado despido de quaisquer conotações religiosas ou até mesmo místicas. O profeta apenas “se apossa” dessa palavra da moda medieval, do agrado dos bispos e padres, para descrever uma degenerada e má criatura que viria atormentar os homens numa gigantesca guerra, tão violenta e cruel que marcaria um novo tempo para a humanidade.

            Atentem-se: Nostradamus não menciona nessas quadras “fim do mundo, final dos tempos, apocalipse”, ou coisas semelhantes. Ele apenas situa o grande embate em armas comandado pelo anticristo como um divisor de águas: o nosso modus vivendi – entremeado por disputas fratricidas e mesquinhas – modificado a partir dos eventos previstos, numa grande costura em que o fio dos acontecimentos passa pelos ilhós abertos pelo profeta no tecido espaço-tempo.

            Não há também em Nostradamus o determinismo do destino imutável. As suas profecias aparecem como avisos de mudança de comportamento para que elas não se realizem (essa é a característica básica de qualquer profecia). Porém, os vaticínios do sábio francês trazem em si a melancólica certeza de que o nosso comportamento egoísta nos faria cegos aos alertas contidos nas Centúrias. Assim, o destino pode e deve ser mutável, sujeito ao nosso livre arbítrio, porém sempre em contradição com o até agora imutável egoísmo humano. A questão das Centúrias é: quem ganhará essa disputa entre o inerte e insensível espírito humano e o dinâmico destino que pode ser mudado? E pelo que vai escrito nesta análise que desenvolvemos, intui-se que não será o homem a ganhar esta triste peleja, pois somos renitentes em nossos erros, sempre repetidos, sempre voltados ao mais lutuoso e nefasto sentimento destrutivo a habitar os cantos escuros de nossos corações e mentes. O destino está escrito porque somos incapazes de reescrevê-lo. Eis a sabedoria da mensagem profética. Eis a nossa miserável condição.

54. O irmão gêmeo do anticristo nasce morto

I.95

Devant moustier trouvé enfant besson

D’héroicq sang de moyne vetustique,

Son bruit par secte, langue et puissance son,

Qu’on dira soit eslevé le vopisque.

[Diante do mosteiro o gêmeo enjeitado do sublime sangue monástico e muito velho, Pedirão que seja levado ao gêmeo nascido vivo, pelo seu ruído para a seita, pela energia consumida. – Francês: enfant trouvè, criança enjeitada. Latim: vopiscus, gêmeo que nasceu vivo ou escapou do aborto].

            Fontbrune, um dos mais respeitados tradutores de Nostradamus, considera esta quadra como uma referência ao anticristo e sugere a seguinte versão: “Um gêmeo será encontrado num monastério, originário do sangue nobre de um monge muito velho. Seu ruído será grande por seu partido, sua língua e poder de sua voz, por isso pedirão que seja levado ao poder do gêmeo sobrevivente”. [Fontbrune, p.519]. Em outras palavras, Fontbrune interpreta que o anticristo teria um irmão gêmeo nascido morto e que foi abandonado num monastério (na nossa tradução, “diante do monastério”). Eles seriam filhos de um monge (religioso) muito velho. Porém, em nossa opinião, Fontbrune não decifra bem os dois últimos versos, obscuros diante dos que os precedem.

            Neste exercício interpretativo, ao se fazer nova tradução e trocar de lugar o terceiro com quarto verso, chegaremos a uma versão mais clara para o final do quarteto, em que se prevê um ruidoso escândalo para a seita ou ordem monástica, a qual supostamente pertenceria o religioso que emprestara seu sangue às crianças, caso o gêmeo morto não seja levado para quem está com a guarda do gêmeo vivo – não nos esqueçamos que a Igreja tem por costume conservar relíquias de santos e papas, inclusive amostras do sangue.

            Estamos lidando com a linguagem poética, ao mencionar que anticristo teria suas origens no sangue clerical, Nostradamus poderia estar denunciando um pecado. Uma grande falta moral pela qual se gerou o degenerado e o levou ao abandono. Na quadra não aparece quem abandonou a criança em frente ao monastério, mas certamente essa personagem oculta esperava a piedade cristã para preservar a vida do rebento. Assim, a criança só sobrevive por compaixão, uma das mais caras virtudes que se pode encontrar num cristão.

            E aqui vai uma pista puramente dedutiva de que lugar estaria falando Nostradamus: em Manhattan, temos a grande catedral de St. Patrick, sede arquidiocesana católica. No início do século XIX, junto e no grande terreno onde está a catedral funcionou uma escola e abrigo (monastério) de uma pequena comunidade de monges trapistas. Mais tarde, ali se construiu um orfanato conjugado à catedral, prédio que hoje abriga uma escola católica dedicada ao ensino fundamental.

55. Anticristo no poder – 27 anos de guerra

            O anticristo de Nostradamus é no mínimo um sujeito obstinado. Não obstante ter sido rejeitado no nascimento e conhecido a pobreza, ele de alguma forma atingirá o poder entre os homens. Nas quadras seguintes, Nostradamus nos descreve as consequências disso:

VIII.41

Esleu sera Renard ne sonnant mot,

Faisant le sainct public vivant pain d’orge,

Tyraninizer après tant a un cop?

Mettand à pied des plus grands sur la gorge.

[Um homem astucioso será eleito sem nada dizer; passará por santo, vivendo vida simples. Depois, subitamente, exercerá a sua tirania, com o pé na garganta dos grandes].

IX.50

MENDOSUS tost viendra a son haut regne,

Mettant arrière un peu le Norlaris:

Le Rouge blesme le masle à l’interegne

La jeune crainte et frayeur Barbaris.

[O deformado subirá logo ao poder, pondo o loreno para trás. O vermelho pálido entre os governos do homem: o jovem temor e o terror bárbaro].

            Nessas duas quadras encontramos o sonho do marketing político: um homem de vida simples e de caráter ilibado, um verdadeiro santo. Porém, muito esperto e astuto o suficiente para se candidatar a cargo de muito poder, sem nada propor ou dizer de suas reais intenções que é botar o pé na garganta dos grandes ou de quem ousar desafiar sua tirania.

            A primeira vítima de sua ascensão democrática ao poder é um loreno – topônimo que indica a pessoa natural de Lorena, região da França, ou até mesmo de lugares que levam esse nome: como a pacata Lorena, com seus 1700 habitantes, no estado norte-americano do Texas. Jovem, ele causará temor nos partidários da esquerda social-democrata, o vermelho pálido que estará governando os homens, por aplicar “o terror bárbaro”. Nostradamus reforça novamente o que parece ser o traço marcante do anticristo ao destacar com todas as letras o adjetivo latino mendosus, que tem que ser estudado em detalhes, pois guarda em si significados que elucidam a hipótese do anticristo portar defeitos genéticos graves, justamente por ele ser uma cópia ou composição genética de outros seres.

            Pois bem, mendosus é um adjetivo masculino, e equivale a “incorreto, cheio de erros” – com respeito a uma cópia. O orador e linguista Marcus Tullio Cicero (106-43 a.C) usava nos seus escritos, aqueles que nos chegaram, mendosus como sinônimo de defeituoso e vicioso. O poeta Publius Ovidio Naso (43 a.C-17ou 18 d.C) utilizou em seus poemas mendosus com os mesmos significados dados por Cícero e também como indicativo de alguém com “rosto disforme”. Mendosus tem origem no substantivo neutro mendum: “erro, falta; erro de cópia; defeito, nódoa; mancha no rosto”. Logo, parece-nos que, ao se servir da exatidão guardada no túmulo do latim, para que não pairassem dúvidas em traduções futuras, em qualquer língua moderna, Nostradamus usou essa palavra para ressaltar que o anticristo é uma cópia com defeitos de outro ser ou seres. Defeitos morais e genéticos.

            Nesse ponto, e com toda a razão, pode-se argumentar que Nostradamus apontou anticristo como originário do sangue um clérigo (I.95) – observem que na quadra não é usada a palavra pai, como na quadra V.84 “filho de pais obscuros e pérfidos” – obscurs em nossa língua é traduzido por “não claros, ignorados”. Isso demonstra que, mais do que em qualquer outro tempo, em nossos dias a palavra pai deve ser acompanhada da palavra “natural”, em virtude das várias maneiras não-naturais de concepção e fertilização que foram desenvolvidas pela medicina moderna.

            E já que ele está no mundo e no poder, vamos ver adiante o que o anticristo deseja e pretende:

X.66

Le chef de Londres par regne l’Americh,

L’isle d’Escosse t’empiera par geleé:

Roy Reb auront un si faux Antechrist,

Que les mettra trestous dans la meslée.

[O chefe de Londres pelo governo da América, vai ser julgado pela frialdade da Escócia: os governantes retrocederão diante do hipócrita Anticristo, e pelas suas vontades todos serão convocados para o conflito].

VIII.77

L’antechrist trois bien tost annichilez,

Vingt et sept ans sang durera sa guerre:

Les heretiques morts, captifs exilez,

Sang corps humain eau rougie greler terre.

[O anticristo rapidamente eliminará três. Vinte e sete anos será a duração dessa guerra: os incrédulos estão mortos, cativos e exilados; sangue dos corpos humanos, água vermelha e granizo na terra].

            Nestas duas quadras a palavra anticristo aparece claramente, assim como há citação explicita da América (Americh), que na época de Nostradamus era absolutamente nada se comparada ao colosso de hoje. Nelas há a revelação de que, um pouco antes da guerra, haverá um desacordo muito grande no Reino Unido, sendo que o chefe inglês (primeiro-ministro?) será julgado pelos americanos como responsável pela indiferença da Escócia ao hipócrita anticristo. Todavia, os governantes retrocederão diante da foice do anticristo (a palavra francesa faux, tem o significado de “falso, hipócrita, dissimulado” na função de adjetivo e “foice”, quando no papel de substantivo). Nos dois últimos versos da quadra X.66, várias são as dificuldades de tradução, pois a palavra “Reb” sozinha não tem significado. Alguns tradutores dizem que ela denota o “vermelho” do latim robeus – o que seria um bom encaixe para dizer que o anticristo é comunista! – entretanto, há de se crer que Nostradamus usa o artifício latino que junta o prefixo re ou red ao verbo para indicar “movimento para trás”, assim, temos a tradução “os governantes (o governante) retrocederão” para Roy Reb aurount. Ou seja, os governantes vacilam diante do anticristo.

            Na quadra VIII.7 aparece a descrição do horror implantado pelo anticristo numa longa guerra de 27 anos. A guerra será demasiadamente longa por ausência de oposição à tirania, porque todos que não acreditavam no anticristo, os hereges, incrédulos e infiéis estarão mortos, presos ou exilados. O quadro realmente é infernal: sangue e corpos humanos para todos os lados e na água que ficará vermelha. Os bombardeios aéreos serão aterradores, como o “granizo” caindo sobre a terra.

56. O grande “cometa”, fuga e morte do papa

            Por enquanto, deixemos o anticristo de lado, porque no mesmo tempo em que ele nasce, trabalha e governa outras coisas estarão acontecendo ao seu redor. Uma dessas coisas é o aparecimento de um grande “cometa” que ficará muito tempo visível no céu.

            Talvez, com exceção daquele que guiou os reis magos à manjedoura, os cometas sempre foram vistos como portadores de mau agouro. “Astro este que passa vulgarmente como anunciador de morte aos soberanos”, nos revela o historiador Suetônio, ao comentar as superstições do imperador Nero. Essa crença parece ter resistido e sobrevivido até mesmo à Idade Média chegando até nós: "Quando morrem os mendigos não aparecem cometas. Os céus somente se inflamam na morte dos príncipes", escreveu o bardo Shakespeare (1564-1616), em sua obra “Júlio César”.

II.41

La grand' estoille par sept iours bruslera,

Nuee fera deux soleils apparoir:

Le gros mastin toute nuit hurlera,

Quand grand pontife changera de terroir.

[O cometa brilhará por sete dias. O céu mostrará dois sóis; o chefe inglês vai berrar a noite toda quando o papa mudar de país].

II.15

Vn peu deuant monarque trucide,

Castor Pollux en nef, astre crinite:

L'erain public par terre et mer vuidé,

Pise, Ast, Ferrare, Turin terre interdicte.

[Pouco antes do sagrado monarca morrer, Castor e Pólux, gêmeos no comando quando o cometa aparecer no céu: o dinheiro público será roubado na terra e no mar; Pisa, Asti, Ferrara e Turim serão lugares interditados. – Latim: crinita stella, estrela cabeluda, cometa].

VI.6

Apparoistra vers le Septentrion

Non loing de Cancer l'estoille cheuelue:

Suze, Sienne, Boëce, Eretrion,

Mourra de Rome grand, la nuict disperue.

[Um cometa aparecerá da direção da Ursa Menor, não muito distante de Câncer (21 de junho): Susa, Siena, Beócia e o Mar Vermelho tremerão, o grande homem de Roma morrerá quando o cometa desaparecer na noite. – Latim: septentrio, septentriones, constelação de sete estrelas, Ursa menor, perto do polo Norte].

            Pelo jeito, esse “cometa” que, de tão grande, brilhará na luz do dia, vai trazer muitas transformações ao planeta e não só na vida da Igreja, com a fuga e morte do “sagrado monarca”. Aqui temos também uma referência mitológica, Nostradamus fala-nos que o “cometa” virá quando o Sol estiver em Gêmeos e Castor e Pólux no comando do mundo. Na mitologia greco-romana, esses dois entes trazem a singularidade de serem gêmeos, compartilham da mesma mãe, mas, no entanto, são filhos de homens diferentes. Um é imortal e o outro é um mortal comum. Ao morrer Castor, Pólux pede a Zeus para deixar seu irmão compartilhar com ele a imortalidade. Zeus concorda com o pedido e os dois são transformados na Constelação de Gêmeos. O Sol aparece em Gêmeos entre 21 de maio e 20 de junho. Esse cometa deve estar no céu provavelmente no último decanato de Gêmeos, posto que na outra quadra, Nostradamus diz que isso se dará perto da entrada do Sol em Câncer, 21 de junho, na direção da Ursa Menor. Portanto, estamos nos referindo ao mesmo “cometa” nessas quadras.

            Quanto ao dinheiro público que nos fala Nostradamus, roubado na terra e no mar, é uma informação que pouco nos ajuda – porque isso é tão banal em nossos dias! – mas deve ser em grande quantidade, muito além do que ordinariamente é subtraído aos contribuintes!

            Dentre as outras catástrofes, temos um grande terremoto que vai atingir a região do Mar Vermelho, Grécia e Itália, com várias cidades ficando interditadas.

            A desavença de Roma, que fará o papa mudar de país, será com a Inglaterra, já que um “chefe inglês vai berrar durante a noite toda”, incomodado que estará com tal atitude do Santo Padre.

57. Tsunami gigante na Grécia

VIII.16

Au lieu que HIERON fait la nef fabriques.

Si grand deluge sera et si subite,

Qu'on n'aura lieu ne terre s'attaquer,

L'onde monter Fesulan Olympique.

[No local em que Jason construiu a embarcação, haverá enchente grande e repentina que não haverá lugar ou terra onde cair, as ondas ficarão acima do Olimpo].

            Esse evento pode estar relacionado também com a aparição do “cometa” da quadra anterior, já que o herói mitológico Jason construiu sua nau na Grécia. Um grande terremoto na Itália, ou na Sicília, teria como efeito ondas gigante no Mediterrâneo. Para as cidades serem evacuadas, é sinal que o terremoto pode ter dimensões incalculáveis ao gerar uma onda tsunami capaz de cobrir o monte Olimpo, com seus 2.917 metros. Ou seja, uma catástrofe tão poderosa em que até os deuses não serão poupados.

58. Passagem do “cometa” e terremoto

II.43

Durant l'estoille cheuelue apparente,

Les trois grands princes seront faits ennemis:

Frappez du ciel paix terre tremulente,

Pau, Timbre vndans, serpent sur le bort mis.

[Durante a passagem do cometa, os três grandes generais serão inimigos; vão ser atacados do céu e a terra tremerá. Os Baixos Pirineus e o Tibre ficarão agitados. A serpente se instalará às suas margens].

            Episódio que se refere a um período crítico da Terceira Guerra, com grandes combates comandados por três comandantes em batalhas navais, aéreas e de artilharia. A serpente (anticristo ou criatura tão má quanto ele) se instalará às margens do Tibre, rio que nasce na Toscana e deságua no Mar Tirreno, passando por Roma. Uma das fortalezas que temos nessa região é o Castelo de Santo Ângelo ou Mausoléu de Adriano, diante da ponte Sant'Angelo, muito próximo do Vaticano, em Roma. A construção foi iniciada pelo imperador Adriano (76-138) para ser sua sepultura, o castelo é hoje um museu, mas já funcionou como fortaleza (quartel) e prisão na Idade Média.

59. O “cometa” e a morte do anticristo

            Nas análises das quadras anteriores colocamos esse “cometa” sempre sob suspeita porque há indícios de que ele seja um objeto voador de grande porte. Pois, como explicar um cometa lançando bombas sobre a terra:

II.47

L'ennemy grand vieil dueil meurt de poison,

Les souuerains par infinis subiuguez:

Pierres plouvoir, cachez soubs la toison,

Par mort articles en vain sont alleguez.

[Quando o grande velho inimigo que trouxe a infelicidade for morto por veneno, os soberanos serão por muitos subjugados: aerólitos chovem da cauda do cometa, constantemente artigos de morte são citados em vão].

            Para essa quadra e as anteriores não se pode fazer qualquer afirmação se objeto visto no céu é realmente um “cometa”. Entretanto, as denominações – o velho inimigo e serpente – parecem-nos referências claras à mesma pessoa, o anticristo. No verso “constantemente artigos de morte são citados em vão”, está colocada a ideia da falta de um equipamento de guerra capaz de combater o inimigo que veio do céu.

60. A invasão dos “carecas iluminados”

Présage LII. Iuillet.

Longue crinite leser le Gouuerneur,

Faim, fieure ardante, feu et de sang fumée:

A tous estats Iouiaux grand honneur,

Sedition par Razes allumée.

[Quando o grande cometa ferir aquele que governa, fome, doenças, fogo e sangue em profusão. Fim das riquezas, o tumulto e a revolta popular serão provocados pela vinda de carecas de pele iluminada. – Francês: sedition, sedição, tumulto popular; ras, adjetivo que significa pelado, sem pelo, careca, pronuncia-se /razê/].

            Pedimos licença ao leitor para mais um exercício de ficção científica, já que nos faltam acontecimentos históricos ou atuais que expliquem satisfatoriamente esse presságio e as quadras seguintes, as quais contêm coisas nunca antes experimentadas pela humanidade. É possível que Nostradamus esteja falando de seres extraterrestres. O risco de um cometa ferir alguma pessoa em terra é praticamente inexistente, logo temos que procurar dentro daquilo que hoje seja conhecido, algo que flutue no céu e que possa atingir um homem na terra, um avião ou helicóptero, por exemplo. Porém, já estamos acostumados com aviões e helicópteros, portanto ninguém mais se assusta com eles a tal ponto de sair pelas ruas gritando em frenético desespero – a não ser que eles nos ataquem. A palavra sedição significa um grande tumulto popular. Somente algo bem diferente ferindo as pessoas na terra poderia causar tal sedição – uma nave espacial, talvez.

            Agora, como são maus e estranhos esses “pelados iluminados” que vão provocar tantos horrores em nosso planeta, com fome, fogo, doenças e sangue esparramado! – está legal, o leitor já deve ter visto algum filme parecido, pois eu também! – Mas, vamos adiante com os carecas do mal, morto o anticristo, eles é que estarão no comando:

IV.66

Sous couleur fainte de sept testes rasces,

Seront semez diuers explorateurs:

Puys et fontaines de poisons arrousees,

Au fort de Gennes humains deuorateurs.

[Sob a falsa aparência de sete raças testadas, serão semeados diversos exploradores: poços e fontes polvilhados com venenos, na fortaleza estão os devoradores dos genes humanos].

            Essa quadra oferece-nos várias possibilidades de tradução, uma delas é a que foi apresentada, com a palavra race no sentido de raça ou linhagem. Outra seria separar a palavra rasces em ras e ces; assim, o primeiro verso ficaria: “sob a falsa aparência desses sete carecas”. Mas, por qualquer tradução que se opte, a ideia presente nos parece ser a introdução de seres que serviriam de espiões entre os humanos. A palavra francesa couleur também tem por significado: o colorido da face, tinta ou material corante. Esses seres, resultado de sete experiências genéticas, espalhariam veneno nos poços e fontes de água para eliminar a humanidade, com os rostos “maquiados” para se fazerem de humanos. E por último, esses devoradores dos genes ou do gênero humano, quando não empenhados em alguma tarefa, estariam bem protegidos numa fortaleza.

V.60

Par teste rase viendra bien mal eslire,

Plus que sa charge ne porter passera.

Si grande fureur et rage fera dire,

Qu'à feu et sang tout sexe trenchera.

[Pela cabeça careca será difícil deixar se seduzir, mais que sua carga ele não poderá carregar: tão grande furor e de raiva irá dizer, que ao fogo e ao sangue todo sexo entregará].

            O “cabeça raspada” vai querer, num primeiro momento, seduzir a humanidade, mas ele não terá encantos suficientes para tal – talvez queira nos escravizar. Sua nave não suporta muita carga (para prender os humanos). Ele será tomado de fúria, e entregará à morte os que desejarem procriar.

I.88

Le diuin mal surprendra le grand Prince,

Vn peu deuant aura femme espousee,

Son appuy et credit à vn coup viendra mince,

Conseil mourra pour la teste rasee.

[A ira de um deus surpreenderá o grande governante, pouco antes dele se casar, ele perderá apoio e confiança de repente: alerta, ele morrerá por causa de cabeças raspadas].

            Esse será, talvez, o fato subsequente à invasão desses seres, eles tomam o poder sobre os homens com a morte de seu governante maior, o anticristo. Depois da histeria coletiva com a visão da grande nave, o anticristo tentará um acordo com os de “cabeças raspadas”, mas enfrentará a desconfiança do povo e perderá o seu apoio, calcado no medo. Juntemos essa quadra com a última da segunda parte deste livro e teremos a história toda da Terceira Guerra e do anticristo montada, detalhe por detalhe. Assim, dessa maneira construída, a epopeia do poeta Nostradamus começa a ter uma linha do tempo e, portanto, sentido.

61. Resumo: as guerras, o anticristo e os “carecas”

            Nostradamus nos fala de duas guerras ainda por se concretizarem. A primeira, com uma duração de pouco mais de três anos, será marcada pela invasão dos árabes, persas e turcos ao continente europeu. Os motivos serão econômicos com desdobramentos a partir do terrorismo e ataques – sabotagem – a alvos estratégicos, com uma ou mais explosões de artefatos atômicos e uso de substâncias químicas e biológicas para a destruição de populações. Boa parte do que está acontecendo agora no Norte da África e Oriente Médio servirá de argumento e estopim para esse novo conflito.

            Cessada essa curta guerra, outra maior vai envolver toda a humanidade. A Terceira Guerra, com duração de 27 anos, tempo suficiente para os homens esquecerem até mesmo por que estão brigando. Na mais curta, o anticristo estará em ascensão. Porém, na terceira ele já vai estar em posição de comando. Pelas quadras interpretadas, é bem possível que ele esteja no comando do Ocidente em nova guerra com o Oriente; inicialmente, as pessoas não se darão conta que estão sendo comandadas pelo “maior inimigo da humanidade”, mesmo ele portando características físicas bem marcantes. Socialmente, existirão dois grupos vivendo sobre a terra, um deles modificado geneticamente.

            As duas guerras somadas vão reduzir a humanidade a número mínimo de indivíduos, pela fome, alterações climáticas críticas e doenças. Isso sem contar as vítimas diretas nos bombardeios sobre as cidades e nos campos de batalha. Poucos devem sobreviver reunidos em povoados isolados próximos ao polo Norte. É de supor que o hemisfério Sul também sofrerá com as guerras e alterações climáticas, porém com efeitos menos danosos.

            No último ano dessa longa guerra, o anticristo morrerá e tudo parecerá rumar para um final feliz. Porém, os autores do assassinato, os seres com características incomuns aos humanos, tentarão dominar o planeta e sua população, ou pelo menos, a parte que restou disso tudo. Pelo que descreve Nostradamus, parece que já estamos sendo vigiados por eles, donos de uma tecnologia bem superior a nossa.

Nos capítulos seguintes, vamos destacar algumas instituições e outras personagens menores que estarão atuando em nosso futuro próximo ou ainda muito distante.

62. Igreja Católica voltará às origens

            Nostradamus demonstra grande interesse pelas questões da Igreja Católica. Nas Centúrias encontramos dezenas de vaticínios sobre a Igreja, com destaque para os papas e seus pontificados. O interessante é que o centro das atenções do profeta não se concentra na doutrina ou muito menos em questões teológicas. Interessa para ele como os eclesiásticos católicos estão dirigindo a Igreja e seus comportamentos a mais das vezes em desacordo com os princípios cristãos. Para Nostradamus, a Igreja Católica passará por crises morais constantes até chegar o momento em que desaparecerá como a instituição que detém o monopólio das almas neste planeta. As ideias de Nostradamus são semelhantes às teses dos que desejavam a reforma da Igreja em sua época, muitas delas próximas do pensamento dos primeiros luteranos e calvinistas.

VI.9

Aux sacrez temples seront faicts escandales,

Comptez seront par honneurs & loüanges:

D'vn que on graue d'argent d'or les medalles,

La fin sera en tourmens bien estranges.

[Nos templos sagrados escândalos serão praticados, eles serão contados como homenagens e comendas: em um dos quais gravam moedas de prata e de ouro medalhas, o fim será em tormentos muito estranhos].

            Nostradamus questiona o futuro das religiões e aponta seus desvios. Os escândalos virão por meio do dinheiro obtido no comércio da fé. Chegará o momento em que tudo isso terá fim. Esse fato será provocado por entes estranhos às igrejas – a expressão “templos sagrados” parece-nos proposital por não se referir a uma única religião que desenvolve essas práticas.

I.4

Par l'vnivers sera faict vn monarque,

Qu'en paix et vie ne sera longuement:

Lors se perdra la piscature barque,

Sera regie en plus grand detriment.

[Para o universo será feito um monarca, mas que não viverá muito tempo em paz. Será quando o barco do Pescador se perderá, regida pelas maiores calamidades].

            A humanidade vai fabricar um novo monarca para conduzir uma igreja artificial. Talvez outra instituição religiosa de caráter universal. Essa tentativa não terá muito sucesso porque será resultante de uma doutrina fraca e questionada. Neste tempo, o trono de Pedro será sacudido por grandes calamidades e a Igreja Católica se perderá até que ela ressurja na sua forma pura:

V.74

De sang Troyen naistra coeur, Germanique

Qui deuiendra en si haute puissance:

Hors chassera estrange Arabique,

Tournant l'Eglise en pristine preeminence.

[De sangue troiano nascerá de coração germânico, que se tornará de tal modo poderoso: rechaçará gente estrangeira arábica. Voltando a Igreja à primitiva preeminência].

            Um poderoso rei ou governante francês, pode ser inclusive papa, com simpatias pela Alemanha irá expulsar os árabes do continente europeu. Nesta época, a Igreja recupera sua antiga grandeza. Muitos interpretam esta quadra como sendo a volta da igreja aos seus princípios doutrinários e verdadeiramente cristãos propícios ao ecumenismo.

            Essa fixação de Nostradamus pela Igreja, com linguagem figurada e cheia de rodeios, como já foi adiantado neste livro, se explica pelo poder que os religiosos gozavam em seu tempo, decidindo sobre a vida ou a morte de uma pessoa em processos inquisitórios. Nostradamus sabia que andava sobre uma corda bamba. O fato de ser médico, alquimista e profeta o transformava num suspeito de cometer heresias. Ao se colocar como uma pessoa preocupada com os destinos do catolicismo e sem, aparentemente, tocar em pontos polêmicos e doutrinários, Nostradamus construía para si álibis para possíveis processos.

            Para nosso estudo, a citação dos papas e fatos relativos à Igreja é um instrumento auxiliar na definição de datas ou períodos de realização de outras profecias. Desobrigo-me, portanto, de tecer considerações teológicas, em respeito ao credo de cada um, mas não posso deixar de comentar o que foi escrito pelo profeta, no que diz respeito à religião:

II.8

Temples sacrez prime façon Romaine,

Reietteront les gofres fondements,

Prenant leurs loix premieres et humaines,

Chassant non tout des saincts les cultements.

[Templos à maneira romana; eles rejeitarão os excessos fundamentalistas, tirando as primeiras leis de inspiração humana, não perseguindo todos aqueles que cultuam santos].

            Essa quadra que revela como será a nova igreja, com templos se utilizando da arquitetura romana, muito mais simples em relação aos de inspiração gótica das igrejas da Idade Média e que determinaram a arquitetura católica dos séculos seguintes. Uma revisão nos livros sagrados será feita, retirando-se deles tudo aquilo que for de inspiração humana, principalmente as doutrinas fundamentalistas e intransigentes que geralmente provocam a intolerância religiosa. É de se observar que alguns crentes ainda cultuarão santos, ou seja, estarão apegados aos ritos religiosos antigos, porém, não serão perseguidos por causa disso.

III.2

Le diuin Verbe donra à la substance,

Côpris ciel, terre, or occult au laict mystique:

Corps, ame esprit ayant toute puissance,

Tant soubs ses pieds comme au siege Celique.

[A palavra divina é dada à matéria, será o adubo do céu na Terra, o ouro escondido no leite místico: alma, espírito com toda a energia, o homem terá tudo sob seus pés como se estivesse no céu – Latim: copros, adubo].

IV.25

Corps sublimes sans fin à l'oeil visibles,

Ob nubiler viendront par ces raisons:

Corps, front comprins, sens chefs & inuisibles,

Diminuant les sacrees oraisons.

[Os olhos percebem uma infinidade de corpos suspensos no ar; haverá deslocamento pela força do pensamento: corpos, compreendidos pelo frontal, sentindo o chefe invisível, diminuindo as orações sagradas].

            Como prometi, deixo ao leitor a interpretação desses versos para não me meter em teologias. A quadra III.2 referente à descrição de como seria encarada a fé em tempos futuros e a IV.25, que parece tratar dos poderes que o homem alcançará ao aprender usar áreas ociosas do cérebro; a sua capacidade de levitar e de mover corpos somente com o pensamento, sem precisar orar ou rezar muito para entrar em sintonia com o Divino.

63. Outras personagens curiosas e intrigantes

II.29 (O chefe asiático)

L'Oriental sorrira de son siege,

Passer les monts Apennons voir la Gaule:

Transpercera le ciel, les eaux & neige,

Et vn chacun frappera de sa gaule.

[O chefe asiático vai deixar o seu assento, passará os Montes Apeninos e verá a Gália (França). Atravessará o céu, os rios e as montanhas e sobrecarregará os países de impostos].

            Foi visto em nosso estudo que o anticristo pode ter características mongólicas, por isso o apelido "O Oriental" lhe cairia bem. Aqui acreditamos que não se trata do anticristo, mas de outra personagem que viria realmente do Oriente, pois para se passar dos Apeninos, qualquer ataque contra a França tem que vir do Leste, pela Itália ou se utilizando das bases aéreas e portuárias italianas. Algumas publicações apresentam sortira em vez de sorrira no primeiro verso da quadra, o que não muda a interpretação.

            Nostradamus refere-se ainda a outros personagens, como, por exemplo, a este, na Ásia:

III.60 (O jovem negro criminoso)

Par toute Asie grande proscription,

Mesme en Mysie, Lysie, et Pamphilie.

Sang versera par absolution,

D'vn ieune noir remply de felonnie.

[Ao longo de toda a Ásia grande proscrição, até mesmo em Mysia, Lycia e Pamphilia. Será derramado sangue por causa da absolvição de um jovem negro cheio de crimes].

            Mysia, Lycia e Pamphila são denominações de antigas regiões da Ásia Menor e que hoje fazem parte da Turquia. A proscrição, ou perseguição, costuma acontecer em guerras civis ou em tempos de agitação política. O jovem negro é possivelmente alguém ligado à dinastia muçulmana dos Abássidas (750-1258 d.C) e que, ao povoar essa antiga região, adotou a cor negra para suas vestes e bandeira. Essa personagem será absolvida, não obstante seus crimes horrendos. Vai ser essa a razão da revolta que alcançará a Ásia e regiões da Turquia de acordo com outras quadras de Nostradamus que tratam da Terceira Guerra.

            Perdoem-me leitores, sou apenas um tradutor e intérprete, entretanto tenho que explicar que, na realidade, Nostradamus usa a palavra noir como preto, que é o verdadeiro significado desse verbete – mas tal tradução não fica bem em épocas do politicamente correto, embora nos atrapalhe sobremodo a interpretação da quadra. Nos versos seguintes vamos encontrar mais coisas politicamente incorretas em nosso tempo. Como essa posta adiante, tirada diretamente do século XVI, onde o politicamente correto era ficar de boca fechada e quando muito, falar por códigos:

III.73 (O rei aleijado)

Quand dans le regne paruiendra le boiteux,

Competiteur aura proche bastard:

Luy et le regne viendront si fort roigneux,

Qu'ains qu'il guerisse son faict sera bien tard.

[Quando o aleijado alcançar o reino, seu competidor será um bastardo próximo: e o reino se tornará tão imundo que quando tentar recuperá-lo, já será tarde].

            Terrível foi traduzir isso, mas é assim mesmo. Boiteux significa também coxo, aquele que claudica ou manca. Melhor dizendo: alguém com um sério problema numa das pernas ou pé. Ele perderá o governo de seu país mergulhado em imoralidade para um irmão nascido fora do casamento de seus pais.

III.44 (Animal que fala)

Quand l'animal à l'homme domestique,

Apres grands peines & sauts viendra parler,

Le foudre à vierge sera si malefique,

De terre prinse & suspendue en l'air.

[Quando o animal é domesticado pelo homem, após grandes esforços e dificuldades começa a falar, o raio tão nocivo ao pára-raios será levado da terra e suspenso no ar].

            Até os anos 1980, os intérpretes de Nostradamus diziam que essa quadra se referia ao rádio. Hoje, temos que atualizá-la para qualquer aparelho de comunicação que use antenas: TV, computadores, celulares etc. Mas, também não podemos descartar a hipótese da ciência desenvolver uma criatura manipulada geneticamente que tenha a capacidade de falar. Outras possibilidades de tradução é interpretar a palavra vierge do latim virga no seu sentido original, “pequeno ramo” ou “bastão mágico”.

XII.65 (O flagelo de Orgon)

Bourdeaux, Poitiers au son de la campagne,

A grande classe ira jusqu’à l’Angon,

Contre Gaulois será leur tramontane,

Quand monstre hideaux naistra près de Orgon.

[Será ouvido o sino em Bordeaux e Poitiers; o grande exército irá até Langon; o império do Norte marchará contra os franceses quando um flagelo espantoso nascer perto de Orgon].

            Embora os sinos das igrejas soem praticamente todos os dias, certamente Nostradamus estava escrevendo sobre um evento que ainda não conhecemos e que se dará quando “um flagelo espantoso nascer perto de Orgon” – Plan-d'Orgon é uma comuna do Sul da França, no departamento de Bouches-du-Rhône. Neste caso, os sinos serão dobrados para avisar a população da morte iminente na invasão inimiga. Esse flagelo não é o anticristo, mas compartilha com ele a mesma maldade.

III.81 (O grande sem-vergonha)

Le grand criard sans honte audacieux,

Sera esleu gouuerneur de l'armee:

La hardiesse de son contenteur

Le pont rompu, cité de pur pasmee.

[O grande “pavão” sem-vergonha, audacioso, será eleito comandante do exército: a ousadia de sua argumentação será a ponte quebrada, a cidade pálida de medo].

            No capítulo em que estudamos o anticristo foi visto que ele seria eleito comandante de alguma força militar, pela contundência que Nostradamus fala do “pavão” (criard, chamativo), deduzimos que ele realmente está nos mostrando um pouco das qualidades do maior inimigo do gênero humano.

I.58 (O monstro de duas cabeças)

Tranché le ventre naistra auec deux testes,

Et quatre bras: quelques ans entiers viura

Iour qui Alquiloye celebrera ses festes,

Fossen, Turin, chef Ferrare suiura.

[Por um rasgo na barriga nascerá com duas cabeças e quatro braços: sobreviverá durante alguns anos. No dia em que Alquiloie celebrará suas festas, Fossana, Turim, a regra de Ferrara seguirão].